os doidos, os tristes, os poetas."
(Hilda Hilst)
Podiam vender ânimo ali no mercadinho da esquina. Café e chá já não dão conta do recado. Tentei ainda aqueles comprimidos de cafeína, taurina, açaí e guaraná, sem sucesso. Continuo indisposto, apático, com preguiça de tudo e até meio impaciente, nervoso mesmo, com a pressão sobre mim. Muito embora eu não demonstre, muito embora aos olhos dos outros eu ainda pareça bem.
Quer dizer, isso não é verdade, as pessoas continuam me dizendo para ir para a terapia. Então acho que elas estão percebendo sim. Já é a terceira pessoa que me diz isso em menos de uma semana. Mas, também, nos últimos dias perdi quase três dias inteiros de trabalho e praticamente não fui na igreja quando precisavam de mim.
Mas eu não estava.
Era apenas uma casca vazia
e nada mais.
As palavras são meu refúgio, de vários modos. Tenho escrito não apenas para descarregar, mas porque esse se tornou um dos poucos momentos em que consigo criar uma barreira quase visível entre mim e os outros, entre o mundo.
O inferno de mais um dia começou. Pelo menos hoje tem previsão de chuva, muito embora eu saiba que a estação do calor já está logo aí. Adeus casacos, cachecóis e ambientes confortáveis. O ar-condicionado ligado no máximo, suar às sete da manhã e voltar para casa grudento e cansado pelas variações de temperatura do dia todo. Não estou nada ansioso pra isso, aliás, poderia tranquilamente ficar o ano inteiro entre a estação fria e a amena. Mas infelizmente ninguém me consultou isso ao definir ou alterar o clima do planeta.
O grande poeta disse que as alegrias violentas são essas que têm fins violentos. Por outro lado, embora não como uma explosão passional, o meu fim é o mesmo das paixões: a cinza fria que se dissipa no vento, como parece ter se dissipado minha vontade de viver, minhas forças para lutar pelo que quer que seja.
A luz, uma lanterna solitária na falésia,
Redonda, cheia, não vale a pena polir,
Suspensa no céu, como o meu coração."
(Han Shan)
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