segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Sentença

"A maioria das pessoas tem medo do silêncio e, por isso, quando cessa o barulho constante de uma festa, por exemplo, é preciso fazer algo, falar, assobiar, cantar, tossir ou murmurar. [...] No chamado “silêncio sepulcral”, a sensação é sinistra. Por quê? Há fantasmas rondando? Dificilmente. O que se teme na verdade é o que poderia provir do interior da pessoa, isto é, tudo aquilo de que fugimos através do barulho." (Carl G. Jung)

Buscamos, ou fugimos, as coisas com as quais sonhamos e que nos oferecem segurança. A possibilidade da felicidade pode assustar. Por isso o vejo aceitando todas as possibilidades, ao invés de aceitar meu amor. Parece que o sinto é algo de profundamente nojento, como se minha declaração fosse sempre seguida de ojeriza. Meu amor não é compreendido, nem aceito, e por isso a confusão é inevitável. 

Busca-se respostas, caminhos, possibilidades distantes, complexas. Mas o meu amor, o que se apresenta diante e flagrante, o amor que declaro sem medo todos os dias. Esse amor se torna apenas causa risos, piadas. Um amor que escreve que cartas de amor ridículas, como disse Fernando Pessoa. Eu sou ridículo.

Talvez eu esteja sendo muito narcisistas, e ele não corresponde não por medo, mas porque simplesmente não me ama ao mesmo modo. Novamente, retomando outro poeta, "tudo que amei, amei sozinho."

E assim vou seguindo a vida: em amores minuciosos e infinitos. Não correspondidos, é claro.

"Eu queria te chamar de meu amor, 
mas eu sei que você não gosta disso. 
Então qual palavra pode expressar o quanto eu estimo você? 
Talvez eu apenas substitua pelo seu nome. 
Meu amor é você então é a mesma coisa. 
Eu quero te chamar de amor, 
mas só seu nome agora deveria servir." 

(Keen Suvijak, Only Boo)

Permaneço, ou retorno, ao silêncio. No meio da loucura da rotina não sou lembrado. 

E essa mesma loucura parece querer enlouquecer ainda mais. A cada novo dia querem mais e mais, querem que trabalhemos mais, exigem compreensão e comprometimentos. Malditos, todos eles! Sempre encontram um motivo tosco para dizer que precisamos trabalhar mais. Chega a ser ridículo! Não temos mais feriados, ou tempo de qualidade com quem amamos. E dizem que o fazemos em vista de uma vida melhor que há de vir. Patético. A vida melhora para eles, que multiplicam suas viagens onde tiram fotos e mais fotos. Nunca sabem o que se passa na realidade de cada dia. E ainda nos elogiam pelo comprometimento, isto é, por cumprir as obrigações que nos foram impostas desumanamente. Acredito que nem seja hipocrisia, há certa dose de refinamento intelectual na hipocrisia. Há aqui, em realidade, apenas malícia.

E esse é o cenário da minha vida: um amor não correspondido, pura e simplesmente, ou um amor que provoca asco que resulta em fuga. Amor que ninguém corresponde. Cansaços extremos, para os quais ninguém olha. Solidão, o Dilema do Ouriço é a verdade mais básica da humanidade. E os seres humanos são realmente criaturas patéticas. 

Amamos, fugimos, encontramos formas, caminhos e sonhos, muitas vezes para fugir da verdade fria e brutal que se apresenta a nós e da qual, irremediavelmente, não é possível fugir.

"naturalmente, nós todos caímos em
baixo-astral, é uma questão de
desequilíbrio químico
e uma existência
que, por vezes,
parece impossibilitar
qualquer chance real de
felicidade."

(Charles Bukowski)

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