quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Cansaço e metamorfose

Eu preciso de um porre, de pelo menos uns dois dias. Na boa, aguento mais não. Fisicamente exausto e mentalmente destruído. Sei bem que algumas épocas na Igreja são mais pesadas do que outras, mas sinceramente, esse meu fim de ano está absurdamente complicado, minha agenda nem é mais organizada por dias e sim por horas, e toda hora vai me aparecendo algo novo pra fazer. 

As pessoas exigem demais de mim. O mundo exige demais de mim. Eu sinto que não consigo atender as expectativas de todos. Não consigo planejar todas as missas do mundo, não consigo pensar com antecedência todas as reuniões do mundo. Não consigo conferir a documentação de todas as crianças da catequese do mundo. 

Sinto como se aos poucos fosse chegando ao fim. Digo, tenho me doado tanto, e me entregado tanto a tudo que faço e a todos que me cercam que parece que logo não terei mais nada para dar. E quando isso acontecer me tornarei o quê? Um inválido que não será mais do que um peso pra todos? 

Terminei a leitura de A Metamorfose, de Kafka, ontem pela manhã. Um amigo queria conversar sobre e então me dispus a ler para que pudéssemos refletir juntos. No livro, o personagem principal que antes sustentava sua família se vê transformado num inseto gigantesco, ao que sua família reage isolando-o no ostracismo. O homem passou a ser um fardo, um incômodo aos seus familiares que chegaram a desejar que ele tivesse o bom senso de ter ido embora por conta própria. Ele foi condenado no exato momento em que deixou de ser útil, e sinto que o mesmo vai acontecer comigo, se deixar de servir aos caprichos de todos quanto em mim se apoiam. 

Eu não posso dormir, não posso apagar, porque algo acontece e alguém precisa de mim. Mas se isso continuar eu vou ficar doente e aí, nem que eu queira poderei ajudar. Claro que ninguém vê isso, e claro que quando viram e me avisaram, eu ignorei. Então não é como se eu pudesse dizer que estão jogando tudo em cima de mim, eu fiz todo mundo se acostumar com isso. 

Por isso tô precisando de um mega porre de Rivotril. Pelo menos uns dois dias dormindo sem saber nem o meu nome! É disso que eu preciso... Descansar. Descansar das pessoas, do mundo que me cerca, de todas as obrigações, de todo o peso que me aprisiona, que me faz infeliz. 

As vezes eu olho pra minha vida e me pergunto, quais os motivos que me levam ser assim? E talvez a resposta esteja no fato de que, quando estou na correria, eu consigo ficar sem pensar. Sem pensar nos meus fantasmas, sem pensar nas coisas que me assustam, nas verdades que me machucam. Talvez seja um lugar seguro, onde possa fugir de tudo quanto ameaça a minha existência. Mas isso funciona? 

Acho que nem sempre, visto que não raramente eu entro em crise mesmo com a correria. Nem mesmo quando tudo parece me oprimir eu ainda encontro lugar para pensar, naquilo e naquele que não deveria. 

E então isso acontece: eu fico cansado demais pra escrever alguma coisa de realmente útil e só derramo essas impressões aqui, na esperança de que isso faça algum sentido um dia. Ou não né, sei lá!

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