sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Um nada na multidão

Eu vou ter de matar você. Não queria, mas será necessário. Eu preciso matar você dentro de mim, antes que esse sentimento acabe me matando. 

Isso porque o que eu sinto por você não é normal, é doentio, obsessivo. Isso porque o que eu sinto por você tem me sugado tanto que logo não haverá mais nada em mim além disso. Isso porque a cada dia que mantenho você vivo dentro de mim é como se você me matasse, me envenenasse aos poucos.

Sinto como se você apertasse meu pescoço, como se aos poucos me tirasse a respiração. Mas não sinto falta do ar no meu peito, não sinto falta do oxigênio no meu cérebro, sinto falta do seu corpo no meu, sinto falta do seu coração junto ao meu. 

Como é, ser o ar que eu desejo respirar? Como é ser mais importante pra mim do que eu mesmo? Como é ser mais para mim do que eu mesmo?

Você não tem resposta pra nenhuma dessas perguntas. Porque eu não sou nada pra você. Talvez um número na agenda, talvez uma sombra distante de algo que um dia possa ter significado. Mas nada além disso, nada além de um estranho, um nada na multidão, que hoje te olha com olhar de admiração, mas que não significa pra você mais do que um mendigo que te olha com ambição. 

Eu vou ter de matar você. Não queria, mas será necessário. Eu preciso matar você dentro de mim, antes que esse sentimento acabe me matando

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