terça-feira, 27 de novembro de 2018

Sacrifícios e desejos

Vamos falar sobre a insanidade nossa de cada dia? Sobre isto que nos foz olhar ao redor e perguntar se todos que nos cercam estão loucos, ou se na impossibilidade desta, os loucos seriam nós?

Eu vejo o quanto me distancio das pessoas, mesmo daquelas que sou mais próximo, e a cada dia parece que estamos em planos de pensamento completamente distintos. Enquanto eu passo horas e horas animado com uma aula sobre as Categorias de Aristóteles, as operações do intelecto e uma crítica a ciência moderna, vejo que não tenho com quem partilhar as experiências que aos poucos vou adquirindo. E se compartilho de alguma forma das descobertas que fiz, seja pelo estudo aplicado ou pela mera observação, sou tomado como louco e potencialmente ofensivo. A convivência com os outros me obriga a sacrificar o que há de mais especial em mim, e como não posso fazê-lo me obriga ao menos a supressão do que sou e de quem sou no âmbito público, para então ser eu mesmo apenas quando outros não estiverem por perto.

A incapacidade de comunicação, a insuficiência de linguagem, o inferno são os outros. Cada vez mais essas expressões se deixam profundamente me meu ser, e cada vez mais a solidão deixa de ser uma inimiga assustadora, se tornando lentamente numa amiga, a única capaz de compreender o que eu quero. 

Não se pode fazer omelete sem quebrar alguns ovos. O progresso não é obtido sem algum tipo de sacrifício. Para obter algo, outra coisa de valor equivalente deve ser oferecido. Mas como fazer pra calcular o que vale a pena ser sacrificado pelo que vale ser conquistado? 

Talvez eu esteja na antesala da questão ética mais antiga dos homens: o que me é permitido e o que me convém? Pra ser sincero não sei se essa é bem a questão essencial para mim. Indo um pouco mais fundo no meu pensamento percebo que a pergunta verdadeira é: o que eu quero para mim? 

As vezes, quando fico absorto numa aula ou leitura, sinto que desejo a vida intelectual, e que anseio o conhecimento mais do que a qualquer outra coisa. A sensação de compreender, ou de me deparar com uma questão que pode render anos de investigação me deixam excitado antes as possibilidades. Elas me deixam perplexo, o que, segundo Aristóteles, é o primeiro passo pro conhecimento. 

Mas ao mesmo tempo eu me vejo naquele cenário, onde o mundo vazio e sem ninguém é meu maior pesadelo. Esse cenário de horror me faz buscar uma companhia humana, alguém que nesse mundo frio possa me oferecer o calor de sua companhia. Mas essa companhia é feita não sem muitos espinhos, e a dor me faz querer o afastamento, que por sua vez me coloca novamente ante ao conhecimento que posso adquirir sozinho. Me sinto preso no ciclo infernal, no ourobouros do meu peito. 

Se fechar os olhos e pensar no que desejo, às vezes quero uma coisa, e às vezes quero outras. Infelizmente essa dualidade ainda batalha ferozmente dentro de mim, como dois animais brigando por um pedaço de carne. 

Desejo a sabedoria do céu ou a companhia da terra? Busco no campo a força merecida ou no alto a sabedoria da vida? 

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