terça-feira, 6 de novembro de 2018

Do feio que entristece

Alguém como é fascinado pela beleza, e hoje, andando por lugares bem distantes de minha casa, me deprimi pela opressão que a feiura do mundo ao meu redor me proporcionou. Me fez recordar do motivo de não sair de meu quarto: coisas feias me deixam triste! 

Como as pessoas não se sentem incomodadas, com construções que se erguem em meio a paisagem sem nenhuma harmonia? Os fios expostos, as pichações, a "arte" urbana, as construções contemporâneas... Atentados violentíssimos ao bom gosto. 

Desde uma Igreja que mais se parece com um balde de cabeça pra baixo, a qual os fiéis são obrigados a chamar de Catedral até a confusa disposição das placas do comércio nos diversos pontos das cidades. Tudo é de uma poluição visual absurda. As luzes massacram o olhar, o barulho maltrata a alma, a feiura agride o ser!

Onde estão os espíritos das construções? Certamente foram banidos do mundo, substituídos por um conceito contemporâneo de expressão que nada mais é do que qualquer coisa sendo chamada de arte. Aliás, creio até que o belo não seja mais considerado arte, senão que passou a ser uma imposição, não sei de quem, que exige dos artistas a qualidade que eles obviamente tem preguiça ou incapacidade de demonstrar.

Isso me incomodou, profundamente. Como podem viver e sair todos os dias de suas casas sem sentir uma súbita ânsia de vandalismo ao cruzar uma praça com uma garatuja disforme se erguendo no centro? 

O mesmo para as festas, incluindo aqui aquelas frequentadas pela dita classe média, que de média só tem o gosto. Gosto médio esse que Ariano Suassuna já avisara que é a pior coisa que se pode ter na arte. 

Hoje em dia o sertanejo universitário ocupa o primeiro lugar das preferências nacionais ao lado do funk, e seus consumidores, embebidos em quantidades absurdas de cerveja barata e fumaça de narguilê, juram que isso é o suprassumo da musicalidade humana. Provincianismo do mais porco, afinal, até o mais matuto dos provincianos deve conhecer algo de belo que há em sua província. 

Mas me parece que o homem não só perdeu a capacidade de produzir o belo, como também de apreciá-lo. Francamente, colocar sob a mesma clave de "músicos" alguém que cante sobre o emponderamento feminino como se apresentando como objeto no intuito de protestar contra a objetificação da mulher e compositores que imprimiram em suas partituras um retrato fidedigno de suas almas perturbadas pelo confronto entre a luz e a escuridão deveria ser no mínimo um crime de atentado ao pudor, mas na atual realidade onde o imbecil é intelectual, o primeiro é retrato cultural e o segundo é eurocentrismo absurdo. 

O que me espanta é que, quando digo algo assim, já logo me acusam de um preconceito cultural com a brasilidade que tal nome representa. Claro que isso é como uma ofensa a mim, que não me sinto representado de maneira alguma nessa brasilidade boçal, o que não me impede de ouvir a música contemporânea (leia-se: a popular), mas que certamente me impede de colocá-la na mesma categoria de artistas de verdade e até mesmo como alguns contemporâneos que conseguem o mínimo de qualidade exigida para o posto que ocupam. 

O feio me causa repulsa. Mas ele está em toda parte, e por isso mesmo me entristece, pois em minha alma há o anseio por um belo que se encontra distante de mim. Em meu íntimo há o desejo pelas belas paisagens, pelas belas obras, pelas coisas que não só nos encantam pela harmonia como nos fazem desejar aquilo que é bom e justo, fazendo-nos rejeitar o que não o é. 

O feio nos sufoca, nos cega, nos faz esquecer que para além do asfalto cheio de buracos de nossa cidade miserável há um mundo de possibilidades, um mundo de belezas, um mundo de riquezas. O feio nos faz acreditar que não há nada para além de nosso limitadíssimo horizonte de consciência, aliás, o que é horizonte? 

Certamente nasci no lugar errado, e quem sabe até na época errada, pois não me encaixo na feiura deste mundo. Meu coração anseia belezas superiores a qualquer coisa que esses pobres provincianos me possam oferecer. 

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