terça-feira, 20 de novembro de 2018

Paz genuína

Que noite agradável! Quase não escuto nenhum ruído vindo da rua, ou da minha família. Meu quarto é iluminado só pela lâmpada amarela da rua e pelas luzinhas do notebook na minha mesa. O efeito é uma luz indireta belíssima. Não estou na completa escuridão, mas também não estou sob a luz. Decidi que gosto da penumbra. 

Uma brisa fresca entra pela janela, não é fria e nem quente demais. O tempo é delicioso. A música toca baixinho no player, as guitarras e baterias do tecnobrega country tailandês que estou ouvindo. Quem diria que essa combinação poderia dar certo? A música tailandesa é cheia de efeitos na guitarra, e a voz é sempre muito tremida, como se fizessem um trinado no final de cada nota longa. O teclado sempre dá um ar meio melancólico, mesmo que a música seja animada, e eu não sei como conseguem esse efeito, mas é fantástico.

Gosto de ficar assim, refletindo, ainda que minha cabeça não esteja se fixando em nada em particular. Isso é bom. Pra quem ta sempre ligado na alta voltagem mental, esse descanso é mais do que merecido. 

Os últimos dias foram extremamente cansativos. Muitos compromissos, muitas saídas, muitas tarefas, muitas cobranças. Quase não tive tempo de me silenciar e de ouvir meu coração. 

Meus pais viajaram no feriado prolongado. Foram na quarta a tarde e voltaram no domingo. Meus amigos me fizeram companhia todo esse tempo. Na quinta vieram dormir aqui, e fizemos uma festa do pijama, com direito a chilli com carne, limpeza de pele e Netflix até as 4h da madrugada. Acho que foi uma das melhores noites que já tive.

Aliás, acho que tenho os melhores amigos do mundo. Eles sabem que passei por dias difíceis, e mesmo que eu não tenha dito isso a eles, sabem que eu pensei em coisas para quando ficasse sozinho. Eles não deixaram, e a companhia deles me encheu de vigor, um vigor que me tinha sido roubado.

Na sexta, quando acordamos, fomos a casa de uma amiga e lá fizemos o almoço. Depois fomos ao apartamento de outros amigos e mais tarde voltamos para cá para um ensaio da banda. Já a noite fizemos outra resenha, dessa vez com um jantar improvisado e até narguilé, coisa que aliás meus pulmões repudiaram veementemente. 

No sábado eu dormi boa parte da manhã, e outro amigo veio passar a tarde comigo. Assistimos anime, fizemos almoço e quase parecíamos um casal na cozinha, foi engraçado. A noite fui para Águas Claras acompanhar um amigo que ia levar a namorada num chá de lingerie e por isso queria companhia. Voltamos bem tarde, depois de assistir alguns episódios de uma novela infantil do SBT e de ouvir música sertaneja raiz, recordando de tempos que não vivemos. 

Quando finalmente me deitei, morto de cansaço, um amigo me ligou. Tinha terminado o namoro e queria companhia. Meia noite saímos em direção a Brasília, fomos pro Lago Sul e lá eu tive a minha amada visão do lago, brilhando na noite escura sob o reflexo das luzes da orla. É uma das minhas visões preferidas, no mundo todo. A brisa fresca, a água se mexendo lenta e vagarosamente e aquele céu gigantesco se abrindo sobre nossas cabeças.... Tudo aquilo me fez pensar o quanto somos pequenos, o quanto nossos problemas são pequenos ante a imensidão do mundo. 

Sabe, ali, olhando aquele lago e aquele céu cheio de nuvens, em me perguntei: como pude deixar que alguém tão pequeno quanto um outro homem mexesse tanto comigo, se há um mundo tão infinitamente maior além do que eu podia enxergar? A terra se tornou pesada sob meus pés, e enquanto caminhava eu sentia que o chão ficava mais e mais firme. Era a presença do ser. Eu me tornara consciente do meu pequeno lugar no universo. E a imensidão não me esmagou, antes disso, estendeu sua mão gentilmente me convidando a conhecê-la. 

Dormi apenas três horas naquela noite, pois tinha de acordar cedo pra Missa de domingo. Com a cabeça explodindo e as pessoas querendo conversar logo cedo, foi uma manhã bem difícil. Não sei lidar com a privação do sono, e ainda hoje (terça) estou cansado. 

Mas sabe, gosto do cansaço físico. Ele passa quando durmo, ele pode ser diminuído com um relaxante muscular ou um banho quente, ou até mesmo com um momento como esse, sozinho com minhas palavras. O cansaço mental não, nada o afasta, nada o cura, apenas o tempo o faz adormecer para mais tarde retornar. 

Meus amigos me tiraram o cansaço mental. Fizeram essa proeza, e essa noite tranquila não seria possível sem eles... Sinto uma paz genuína dentro de mim!

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