quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Do bom senso que se foi

O mundo está cheio de pessoas baixas. O mundo está cheio de pessoas idiotas e eu estou cercado por elas. A cada dia eu vejo mais gente se afundando em suas próprias opiniões estúpidas e eu, que tenho convicções, sendo obrigado a fingir que nada disso me atinge profundamente, para não ferir o orgulho delicado de almas tão frágeis. 

Onde foi parar o bom senso? Se perdeu em meio ao concreto das fundações de nossas relações, pautadas no egoísmo e no puro desejo de não conhecer nada? Onde foi parar o bom gosto, onde foi parar o belo, onde foi parar o justo? Parecem ter se perdido em meios ao livros de história da arte, que trazem estampadas em suas páginas o retrato de um povo distante, que um dia foi capaz de amar o que é bom, o que é belo e o que é justo, mas que hoje ama apenas a miséria da própria humanidade.

A lixeira da podridão humana está estampada nas paredes dos museus como se fosse o que de melhor temos a oferecer. E talvez não seja o melhor, mas é provável que seja a única coisa que temos a oferecer. A voz do homem é mais importante que as cores que Deus pintou no mundo.  A confusão que veio do homem que se colocou no lugar de Deus e nem percebeu é notável. O sorriso de descaso é a véspera do escarro. A mão que te afaga é a mesma que apedreja, disse Augusto dos Anjos, e até ele se colocou no lugar de Deus. Os poetas foram os primeiros a colocarem suas palavras no lugar de Deus, fazendo de seu discurso a única ordem da existência. A eles se seguiram os cientistas, os políticos, e por fim, o homem mais baixo e comum, o provinciano, que pensa que o mundo se mede pela sua província, mas que Deus se mede pelos padrões de sua mente distorcida.

O homem não é mais capaz de levantar o olhar ao seu redor e perceber que deve voltar-se para o céu que o horizonte nos aponta. O homem abaixa sua cabeça para assim contemplar os próprios pés, e assim saber para onde vai. Vai para longe de tudo quanto deveria se aproximar! E se assim se esvaziam, e no vazio se angustiam, disse Pe. Zezinho, mas até ele colocou as próprias opiniões no lugar de Deus.

Eu vejo isso, e isso me revolta, me faz subir o sangue. Mas eu vejo que as coisas que eu digo, são como as deles, e que coloquei os meus pecados no lugar de Deus. Não tenho o direito de condenar a ninguém, antes disso, tenho de lutar para não ser eu mesmo condenado.

Não me refiro a condenação dos homens, oh não, dessa não poderei escapar. Desses eu serei presa fácil. Dos pobres que não enxergam um palmo do mundo a sua frente, desses eu ouvirei a risada, rindo-se de minha busca pela verdade, mas tudo bem, em vista do mundo que agora se abre para mim sua risada não passa de palha a queimar no vento, logo se esvai.

Esse pensamento faz com que eu me acalme, e isso é bom. Fecho os olhos, contemplo paisagens distintas, medito uma ou outra obra de fato digna de apreciação e de atenção, coisa que não posso dizer das pessoas boçais que me cercam. As vezes funciona, mas admito ainda distante de uma meditação eficiente. O meu sangue ferve, e eu sonho com cabeças rolando ante meus pés. O silêncio daqueles que um dia me feriram com palavras, suas adagas afiadas.

O que me consola é saber que buscarei o que sonho almejar, enquanto eles caminham para um morte silenciosa e que em nada contribuirá para o mundo senão com o peso de seus cadáveres podres, um simbolo perfeito de suas existências podres, provocando em mim uma convalescença leve e demente em fazer xixi em seus túmulos. 

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