sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Retrato da paisagem

O piche do asfalto brilha em contraste com a luz âmbar das lâmpadas e das gotículas de água que lenta e delicadamente beijam o chão num encontro delicado. Da minha janela vejo os muros inacabados de meus vizinhos, tudo feio e já vandalizado. O poste do outro lado da rua é torto, e isso me incomoda. O emaranhado de fios arrumados grosseiramente acima de minha cabeça me incomoda. 

A música que toca no player me transporta pra uma paisagem diferente. Uma praia, no meio da noite, com a brisa fresca no rosto balançando meu cabelo e a água morna me acariciando as pernas. Há alguém do meu lado?

Já deu a hora, e eu não me conformo. O horizonte se perdeu em meio a escuridão aveludada, e mais uma noite caiu sem que ele viesse, mais uma noite que volto meu rosto para a cama atrás de mim e constato que dormirei sozinho, sem o seu sorriso de boa noite. 

Um som ao longe me indica que há pessoas por perto, mas não próximas o suficiente para me verem chorar silenciosamente, abafado pela música e pelos carros que hora ou outra passam.

O barulho da chuva aumenta lentamente, e vai abafando os meus gemidos. As lágrimas que caem aqui dentro são mais quentes que as que estão la fora. As de lá escorrem rapidamente pela rua, enquanto aqui elas escorrem lentamente pelo meu rosto.

A imagem de um homem andando sozinho ainda é forte na minha mente. Eu sou esse homem, que anda sem ter pra onde ir, que anda sozinho porque foi abandonado pelo seu amado. 

Esse é apenas um retrato, superficialmente capturado daquilo que vejo e sinto nesse momento. Reflexo de uma alma melancólica que tenta encontrar no vazio sem contorno do meu peito um motivo para continuar...

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