quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Da vontade

O calor causticante me sufoca, tenho tossido com frequência nos últimos e, não importa quantas vezes tenha passado por isso a minha resistência a essa época de seca não aumenta, a cidade fica barulhenta, as pessoas inquietas e o ar ataca minha alergia. 

Chego do trabalho com o corpo cansado e suado, deito para descansar mas só consigo me contorcer em agonia na cama, o vento quente do ventilador em minha direção e a cortina grossa filtrando o ar. É uma tortura. 

Nesse momento usando menos roupa do que o habitual eu olho com tristeza para o meu novo antidepressivo, ao lado de minha mão. Ele promete insônia nas primeiras semanas de uso, é o que dizia a bula, e eu tristemente penso que, no momento, tudo o que eu não preciso é de mais tempo acordado pensando em motivos e formas de tirar minha própria vida. Mas vida que segue, preciso de uma injeção de ânimo e ele promete fazer isso por mim. Não posso continuar vivendo cada dia com a bateria nos 10%, sempre a beira de um colapso de exaustão mental e corporal. 

Sinto falta da breve época em que tinha energia para sair três vezes na semana, dormir tarde e acordar cedo, sem prejuízo de ânimo durante o dia. Essa época realmente existiu? Meu cansaço é tão grande que me pergunto se essas lembranças não são uma invenção da minha mente. Talvez eu tenha desejado tanto ser assim que imaginei que era, quando na verdade nunca tive essa disposição toda. Passei da infância a terceira idade em poucos anos. Não sei dizer ao certo. 

Sinto falta de conversar com alguém até a madrugada, mas admito que minha disposição para isso também tem sido bem parca. A verdade é que tenho estado impaciente e preferido a companhia dos livros às pessoas. Triste, pois a carência as vezes bate e observo com tristeza que parte disso é culpa da minha incapacidade de vencer meu cansaço e sair para conhecer novas pessoas. Lamentavelmente ainda ando distante disso, o cansaço me impede de falar até com as que já conheço, quem dirá com as desconhecidas. 

Mas há algo em mim que sente que se aproxima o período de mudar as pessoas com quem convivo. Sinto que há muito minha companhia se tornou um fardo pesado demais para suportar e por isso me deixaram de lado. Sinto que há apenas um respeito pelo tempo que passamos juntos e nada mais, e que em pouco tempo também isso deve desmoronar. 

Tantos efeitos colateiras do meu estado mental calamitoso, incapaz de manter minhas relações saudáveis, minha vida tem sido um caos. Minha relação comigo mesmo e com o outro foram ambas destruídas por uma poderosa mão invisível, que colocou em minha mente as mais terríveis alucinações, me convencendo de que, na verdade, sou apenas monstro e que mereço a solidão. 

Oh, que malograda sorte. Suspiro então pela libertária disposição, pela força de viver que hoje me é apenas conhecida nos livros e nos olhares daqueles que mataram a minha vontade de continuar existindo. 

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