terça-feira, 10 de setembro de 2019

Fim de tarde

Todo fim de tarde ele passa, sozinho e azul em sua bicicleta, na minha porta. Me cumprimenta com um sorriso tímido e segue seu caminho. Para onde? Eu não sei, me parece distante... Distante, todos distantes, todos seguindo seus caminhos, sem nunca parar, sem nunca ficar para um café. 

Eu me sento debaixo do alpendre, todo fim de tarde, para vê-lo passar, para ouvir aquela voz fraca, de quem faz mais esforço na vida do que deveria. Ele tem um olhar profundo, de quem precisou amadurecer cedo demais, mas que ao colocar a cabeça no travesseiro a noite consegue dormir bem. E todo fim de tarde eu fico ali, debaixo do alpendre a pensar, para onde ele vai? Quem ele encontra quando chega em casa? Será que tem alguém esperando por ele lá? 

E talvez esse seja meu erro. Esperar todas as tardes por ele, esperar por todos que sempre passam por mim e seguem seu caminho, sem nunca olhar para trás. Talvez meu erro seja esperar demais e acabar deixando as coisas passarem, por estar atento olhando para o lado errado. Mas sabe, aquele sorriso tímido é tão lindo que eu não me importaria de perder mais um ou dois anos de minha vida esperando por ele...

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