sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Minha paz

Agora eu entendi. Estava bem na minha cara o tempo todo e eu não conseguia entender. Em todos aqueles dias, em que me olhava no espelho e era como se não em reconhecesse, era o meu íntimo que estava apodrecido, fechado. Me sentia triste e com isso nada no exterior era capaz de me fazer feliz.

Não importa o quanto me olhasse no espelho, nada do que via ali me agradava de maneira nenhuma. Era como se aquele não fosse eu. Podia tentar sorrir numa careta de dor, podia pintar o rosto com maquiagem, tentar tampar a tristeza com várias camadas de base e iluminador mas nada adiantava. Aquele não era eu. Era uma garatuja entristecida. 

Eu me focava em observar a pupila dilatada durante as crises mas esquecia que ela não se limitava aos meus olhos, não, ela me cobria totalmente de uma máscara de dor e rancor. Ocupado demais com as paranoias que me enlouqueciam para notar que ela afetava tanto que eu nem sequer conseguia mais me reconhecer. 

O quão horrível são essas crises. E eu percebo agora, um pouco mais sóbrio daquele ópio que é mergulhar nos pensamentos loucos da minha mente distorcida. Percebo a diferença latente até mesmo em minhas palavras. Em meio a crise eu escrevo muito, meus textos se tornam longos e cada palavra fica cheia de dor, se espremer pode até sair sangue. Quando estou bem meus escritos ficam mais curtos, eu não tenho tanta dor a expressar, é como se secasse aquela fonte de sangue em que me banhava anteriormente. Mas é claro, o meu sangue parou de ser derramado, não há porque chorar, e sem chorar não há cartas de despedida a serem escritas. 

Não posso dizer que isso é ruim, afinal, se eu tiver de sacrificar o meu eu lírico para ficar bem eu o farei de bom grado. Ainda que consiga dizer coisas tristemente bonitas em meio as crises nada vale a minha paz. É como se eu finalmente conseguisse alcançar aquela luz lá no alto, aquela luz que brilha enquanto eu afundava cada vez mais ao fundo do poço. Por alguns instantes eu posso sair, sentir o sol acariciar meu rosto, me deixar aquecer, e isso é bom. Não se compara a frialdade da água, a escuridão do fundo do poço. Essa é minha paz. 

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