sábado, 14 de setembro de 2019

Eletricidade

Ele estava bem perto de mim, talvez se estendesse o braço poderia tocar sua mão. Mas eu preferi me recolher, enquanto olhava-o brincar distraído com os dedos entre os lábios. Ele dirigia de maneira calma, quase como se quisesse aproveitar a paisagem ao nosso redor. Mas que paisagem? A noite tranquila não guardava em si nada de especial, mas talvez houvesse algo de especial nele. 

Olhei para sua mão, no câmbio, e fitei por um instante seu braço forte, as veias pulsando sangue com força e vitalidade. Ele era o oposto de mim. Meus braços finos e frágeis como graveto estavam cruzados em meu colo, em posição de defesa. Do que preciso me defender? Da onda de eletricidade que percorreu meu corpo quando olhei em seus olhos pela primeira vez naquela noite.

Eu nunca gostei de sentir esse tipo de coisa. Involuntariamente o meu coração começa a bater mais rápido por conta de alguns sorrisos, e isso me incomoda. Não gosto de ser vulnerável assim. Isso me torna suscetível a fazer tudo o que os outros querem. E isso não é nada bom. 

Tenho costume de agir de acordo com os desejos de quem gosto. Fragilidade. Isso me torna um covarde, incapaz de se posicionar com força sobre o que quer que seja. Parece que busco sempre a aprovação de algumas pessoas, e isso faz de mim fraco. Eu não deveria precisar da aprovação de ninguém. Mas continuo assim, sempre querendo opinião, moldando meu eu pelo eu do outro e isto não está certo, nenhuma coisa boa pode vir daí.

Mas lá estava eu, sentindo aquela onda de eletricidade percorrer meu corpo, e eu sem entender o que isso significava. Não, é mentira. Eu sabia, sabia e fingia não saber. Mas é melhor assim, o que não é dito em voz alta não existe e, dessa maneira, posso só esperar se dissipar aquela onda de eletricidade, até que não reste mais nada, até porque, não haverá mais nada. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário