sábado, 21 de setembro de 2019

Diáspora

Respondeu Jesus: "As raposas têm suas tocas e as aves do céu, seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça." (Mt 8, 20)

Me sinto só. Triste e sozinho. Aqui neste quarto quente e abafado, fechado pra sumir com as vozes da minha família, embora todos falem baixo e sem muita exasperação. Acho que quero eliminar todo e qualquer sinal de presença do outro. Meu eu precisa ficar só, mas eu não gosto disso. Não quero ver ninguém, mas não quero ficar sozinho. Acho que quero ver apenas um alguém, um alguém especial, sentir esse alguém, sentir seu toque, seu amor. 

Me sinto só. Triste e sozinho. O último capítulo de 2Moons que li me fez sentir péssimo. Todos tem alguém ao seu lado. 

Pha e Yo, 
Forth e Beam, 
Ming e Kit... 

Até os gatos de minha rua jogam na minha cara suas companhias com seus gritos desesperados durante a noite. Que comparação tosca! Lancei às favas a qualidade estilística! Mas de que importa a beleza do verso se a experiência por trás dele é as mais seca possível? Enfim, os gatos tem sua companhia, fugaz mas a têm, e eu, eu não tenho ninguém, e é patético me lamentar disso, ainda que seja o medo mais primitivo do homem.

Onde está?
Meu irmão sem irmã?
O meu filho sem pai?
Minha mãe sem avó?*

A humanidade desde o princípio temia a solidão. Somos fracos se comparados a outros animais, não temos presas poderosas e nem membros fortes pra correr ou lutar. A nossa única chance de sobrevivência foi a união. As pessoas foram então se unindo umas às outras, assim tinham abrigo e proteção, os mais fracos nos braços dos mais fortes. 

Mas eu me sinto só. Triste e sozinho. E sei que já deveria conhecer essa sensação que poderia abraçá-la como a uma velha amiga. Mas isso não é possível. Eu sinto que a cada dia estou mais distante de todos, e não consigo me levantar e dar um passo sequer para enfrentar isso. 

O mundo exige que eu seja forte, meus amigos me enxergam como alguém forte. Mas eu não sou, eu sou só um menino fraco e sozinho, que chora a procura de alguma mão para segurar e me dizer aonde devo ir e o que devo fazer. Só sinto o bater do meu coração, um turu turu que nunca cessa, um anseio que nunca diminui. 

O mundo exige isto de mim mas não há lugar no mundo para mim! Esta é minha eterna tormenta. Me sinto um refugiado em terras longínquas e desconhecidas. Não me lembro de onde vim e nem sei para onde vou. Estou perdido e sem sequer compreender a palavra daqueles que me cercam. 

Que dizem eles? 
Que há para mim neste exílio? 

Esta é, nesta noite solitária, a minha prece:

Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes
Embuçado nos céus?*

~

*Trechos de Diáspora, Tribalistas

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