domingo, 1 de setembro de 2019

A dicotomia de um tratamento psiquiátrico

Vivendo, ou seria melhor subsistindo, sobrevivendo, nessa intensa relação cíclica da qual me tornei refém. Até que ponto posso priorizar minha saúde mental em detrimento de outras saúdes? Penso ser pertinente essa reflexão dado que nem só de tarja preta o homem viverá. 

Parece que tenho de fazer uma escolha: ou o mínimo de disposição ou a paz de não sofrer mais com as crises que me destroem. Os remédios que o psiquiatra parecem me manter sob certo controle, embora as paranoias ainda continuem parece que nenhuma tem o poder de desencadear uma crise grande. Em contrapartida esses remédios minaram a minha já pouca disposição para a vida. Tenho me sentido cada vez mais distante, às vezes até em estado quase catatônico, mas sem crises. Isso tem me afastado das pessoas, claro. O pânico social já não me afeta, mas a falta de disposição sim. 

Se não os tomo todo aquele horror das crises retornam, com mais força do que antes. Se não estou dopado até as situações mais bobas são suficientes para desencadear uma crise daquelas, que me deixa de cama por dias, ou pior, com marcas de cortes pelo corpo e uma profunda sensação de medo da existência. 

Com efeito eu não tenho estado em crise já há vários dias. Mas também não tenho tido disposição pra nada. Vou dormir às 22 horas e ainda assim acordo cansado, é como se meu corpo estivesse tendo sua vontade sugada. Chego cedo do trabalho e tenho disposição pra pouca coisa além de comer e dormir. Nem mesmo a leitura tenho conseguido fazer, e tem dois livros há mais de um mês na minha cama que provam isso. Nem sequer tenho conseguido escrever. Nada me vem a mente, tudo vazio, mas não aquele vazio angustiante, aquele sufocante, pesado, dessa vez é só isso, vazio. E nada mais. 

Devo fazer uma escolha? Não quero voltar aquelas crises, tenho estado bem demais para isso, e é algo que não quero arriscar por nada. Mas, por outro lado, também não quero essa sensação constante de esgotamento que tenho experimentado. É como se nada no mundo fosse brilhante o suficiente para me atrair a atenção ou para me fazer querer sair da cama. Temo que isso se torne outro problema, afinal o mundo continuará girando se eu ficar aqui deitado sem fazer nada. O tempo passará e então, eu me sentirei culpado por ver minha vida passando enquanto fico em estado letárgico em minha cama, ocupado demais em respirar mas não em viver.

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