sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Resenha - Friend Zone

Contém MUITOS SPOILERS, prossiga por sua conta e risco.

Bom dizem por aí que "chifre trocado não dói", e eu acho que essa galera discorda, mas nem por isso eles deixam de trocar. Hoje eu vim para falar dessa série que é um verdadeiro rebuceteio tailandês e que poderia perfeitamente ter sido inspirada na vida de qualquer jovem brasileiro.

Friend Zone é uma série da GMM TV que conta com um elenco de peso e uma história bem diferente da maioria das propostas da empresa. Aliás, já adiantando um pouco o meu expediente, parece que em 2021 eles vão direcionar suas séries para um público alvo um pouco mais velho, acompanhando, penso eu, o crescimento dos espectadores assíduos. Mas okay, vamos ao plot:

A série tem duas temporadas (Friend Zone e Friend Zone 2 - Dangerous Area) e foi ao ar de 2018 a 2021, contanto a história de um grupo de amigos com sérios problemas em seus relacionamentos. Pode-se dizer que por aqui ela ganhou popularidade por causa do núcleo dos personagens gays, já que séries hétero não chamam tanta atenção do público BL aqui do Brasil. 

Pra começar nós temos Boyo (Pearwah Nichaphat de Hormones, Bangkok Stories e mais uma porrada de trabalhos, ela tem uma lista extensa, eu conheci no MV da OST de My Ambulance, feat. com o Ice Paris). Ela é uma garota que tem dificuldades de se manter num emprego fixo e isso acaba atrapalhando o seu relacionamento, mesmo mais tarde ela descobrindo que seu namorado, Safe (Joss Way-Ar de 3 Will be Free e Boy For Rent) já estava de caso com outra. Ela divide a casa com seu amigo, Stud (Plustor Pronpiphat, de My Dear Loser: Edge Of 17) que é um galinha de marca maior e todo dia leva um cara diferente pra casa, dispensando todos na manhã seguinte. Numa dessas noitadas um dos rapazes acaba furtando o notebook de Boyo, com um trabalho importante, o que a deixa enfurecida e expulsa o amigo de casa. 

Convenientemente ela conhece Good (Lee Thanat, de My Dear Loser: Monster Romance e Boy For Rent), que está procurando um lugar para ficar e acaba se mudando, substituindo Stud. Ele tem alguma dificuldade em se manter num emprego também por não saber muito bem o que quer fazer da vida e também tem relacionamentos frágeis. É após várias desilusões que ele e Boyo começam a se aproximar. 

Stud então vai passar um tempo com seu amigo Earth (Singto Prachaya, de SOTUS e He's Coming To Me) e seu namorado, P'Sam (Nat Sakdatorn, de Oh My Ghost e Bad Friends). Acontece que o casal acaba passando por algumas tribulações, já que Sam é médico e quase nunca tem tempo para Earth, que adora passar o tempo planejando momentos e viagens juntos. Com esse atrito entre eles Stud encontra uma brecha pra atacar Sam, e pronto, está armado o circo.

Também temos Boom (Namtarn Tipnaree, de Wake Up Ladies e Slam Dance) amiga de Boyo, Stud e Earth (todos se conhecem desde a faculdade) que namora Tor (Best Nathasit, de Social Syndrome), que não aceita o trabalho dela como modelo por ficar muito exposta ao assédio de muitos homens, enquanto ele não dá também sinais de querer um relacionamento realmente sério.

Por fim, (ufa!), temos Amm (Aye Sarunchana, de Kiss Me Again) e Bern (Ter Ratthanant, de Diary Of Tootsies) que são amigos de Boom e Good e que enfrentam um relacionamento de vai e volta já há bastante tempo desgastado, com Bern investindo em vários negócios fracassados e sendo sustentado por Amm, uma comissária de bordo bem sucedida. 

Ótimo, agora que gastei metade do texto pra apresentar os personagens me sobrou pouco espaço pra falar sobre a história em si. Todos esses aí vão terminando e voltando o tempo todo, volta e meia trocando de parceiros também (e olha que ainda nem cheguei na segunda temporada). A proposta de uma série com uma temática que foge completamente ao habitual colégio/universidade da GMM TV foi um acerto e cheio. Pela cachorrada comer solta os brasileiros se identificaram bem também, não sei como foi a recepção na Tailândia mas não deve ter sido ruim, já que foi renovada para uma temporada maior que a primeira, e com mais adições de peso no elenco. 

Entre uma briga e outra, os personagens vão começando a entender um pouco mais sobre como lidar com as consequências de suas ações, bem como perdoar um amigo ou amado por uma ou mais traições, ou aprender a encarar o trabalho como algo sério, até descobrir um novo talento, podendo mudar completamente o rumo de uma vida até então indefinida. Então, embora pareça só uma bagunça, Friend Zone é uma série sobre autoconhecimento, aceitação, crescimento. 

Na segunda temporada nós temos a entrada de Locker (Pluem Purim, de Birthday e My Dear Loser: Edge Of 17), que se torna interesse amoroso de Boyo ao mesmo tempo que tem um caso com uma garota que se torna "amiga de foda" de Good. Também tem Bew (Preen Ravisrarat, de Slam Dance), amiga da faculdade da galera que volta pra tentar causar atrito entre Boyo, Good e Safe, por quem ela sempre foi apaixonada. 

Não achei espaço aqui pra falar de Ta (AJ Chayapol, He's Coming To Me e Dark Blue Kiss), um estagiário na empresa em que Earth e Stud trabalham e que se interessa por esse na primeira temporada mas é logo descartado por ele, sofrendo bastante com isso. Os dois acabam se reencontrando tempos depois, mostrando que talvez a história deles ainda não tenha acabado. 

Como disse que o plot gay foi o mais interessante pra galera daqui eu vou falar mais dele. Depois de Sam ter traído Earth com seu melhor amigo ele teve de correr muito atrás dele pra ser perdoado, mas a ferida no relacionamento deles nunca se curou. As coisas não melhoram muito quando Earth se vê no dilema de ajudar ou não o amigo que perdeu a mãe para uma doença e com o retorno de Pop (Arm Weerayut, Waterboyy The Series) o antigo namorado de Sam, que ainda não superou o término mesmo de tantos anos. Numa estranha forma de ajudar o amigo Stud acaba seduzindo Pop, mas o relacionamento não vai pra frente porque nenhum dos dois tem interesse nisso. Por fim, pra completar a bagunça, descobrimos que Stud sempre foi apaixonado por Earth, e os dois acabam ficando juntos algumas vezes, deixando Earth ainda mais confuso, Stud triste e Ta, bem, o coitado caiu de paraquedas na história pra ser o saco de pancadas emocional deles. 

À primeira vista parece ser só uma grande bagunça mas, como eu disse, a série fala sobre amadurecimento. É preciso crescer para abandonar a vida de farra e se dedicar a alguém especialmente, ou para aceitar que ainda não está preparado para um relacionamento, e tudo bem! Também é preciso conhecer bem os próprios sentimentos para não machucar quem se ama, especialmente quando as ações podem ter efeitos tão devastadores na vida do outro. Ta ficou destruído depois de ter sido largado por Stud e quase se tornou igual a ele, ao passo que o namoro de Earth e Sam nunca mais foi o mesmo, apesar do esforço de ambos. 

Uma coisa nova também foi a presença de um casal GL, Amm conhece Chris (Apple Lapisara, de YYY e mais uma porrada de trabalho que eu nunca vi, mas a lista é longa) num bar onde a garota é barista e as duas acabam se aproximando e se envolvendo romanticamente, levando a outros problemas já que Chris é bipolar e muito difícil de lidar e Amm precisa se aceitar como lésbica, além de contar para sua mãe. 

A série tem uma pegada única dentro das produções da GMM, o visual é deslumbrante e todo mundo parece ser rico porque se vestem muito bem e moram em casas enormes. Mesmo com tantos personagens, todos com uma história de fundo que não é simples de se trabalhar, conseguiram desenvolver todos muito bem, mostrando vários lados de uma mesma história e mostrando que as pessoas, especialmente os jovens, nem sempre estão preparados para tomas as decisões certas, e que por isso tem de aprender lidando com as consequências das decisões erradas. Quem assiste somente com a atenção nos barracos e traições pode não pegar essa camada, especialmente os críticos da produtora. Também preciso mencionar o fato de que o Plustor é um ator assumidamente gay, e ver ele atuando ao lado de tantos grandes nomes mostra uma baita representatividade pra comunidade, já que a GMM TV tem muitos funcionários LGBTQI+ só que infelizmente eles sempre são ofuscados pelos héteros, enfim, parece que aos poucos vamos conseguir mudar isso. 

A trilha sonora é sensacional e conta com nomes como a própria Pearwah, Fiat Pattadon e Gena Desouza, dentre muitos outros, o que para mim também conta muito pra construção das cenas e do clima da série que, apesar de tudo, é descontraído e mostra bem esse lado do jovem que, mesmo com o mundo se despedaçando, continua querendo se divertir. Dentro de sua proposta ela cumpriu tudo o que prometeu, mesmo não sendo nenhuma história épica ou um divisor de águas, ainda que audaciosa, e isso justifica a nota que eu vou dar:

07/10

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