quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Um animal triste

 

"Não sei por que o ser humano se esforça para entender o outro. Lembre-se, as pessoas são incapazes de se entender completamente. O ser humano é um animal triste." (Hideaki Anno)

Ser humano é fazer parte desse número quase incontável de seres que estão sempre sozinho. Não importa se esteja num quarto escuro, num deserto ou num palco de frente para milhares de pessoas com um microfone nas mãos: não importa o quanto fale o ser humano nunca poderá ser compreendido, nunca poderá entender o outro. Estamos sozinho, e apavorados. 

Isso porque nós apenas somos capazes de ouvir o que vem de nosso próprio coração, mas somos incapazes de chegar ao coração do outro. O que chega a nós por meio das palavras é apenas uma pequena fração da experiência do outro, experiência essa indizível em si mesma que, com um esforço enorme, pode ser transposta em símbolos que se tornam uma matriz de intelecções para que possam entender, mais ou menos, o que se passa no coração do outro. 

Mas esse é um sistema falho. Não por alguma inabilidade do homem, e também não pela simples insuficiência da linguagem, não, o que acontece é que essa é a estrutura mesma da realidade, é a composição intrínseca do homem que o torna um ser solitário, que fala sozinho, que grita até que seu coração sangre, e que ainda assim não é ouvido ou entendido por seus pares. 

Daí os nosso esforços, inúteis, em falar o que se passa em nosso coração. As pessoas são incapazes de se entender completamente. Lhes falta algo. Há um vazio bem no âmago da alma de cada homem, e é desse vazio que o homem se ocupa, estando preocupado demais com ele para conseguir dar atenção ao outro. 

O que nos resta é uma miríade de relações falhas desde a base. Palavras ao vento disparadas a todo momento, pairando sem nunca ninguém as entender. O homem é um animal triste, vive sozinho em meio a uma multidão e tenta fugir do grande eco que reverbera em seu próprio coração com o barulho do mundo exterior. Tudo o que fazemos o tempo todo é barulho, para abafar os gritos desesperados de quem fala e precisa ser ouvido, mas que se vê mais uma vez frente aquela multidão, com o microfone me mãos, mas sem conseguir ser entendido por ninguém. 

O homem é um animal triste, e tudo o que ele mais queria é ser entendido, ser amado, ser abraçado tão forte que, por um minuto que seja, não sinta estar absolutamente sozinho nesse mundo hostil. Mas eu acordei mais uma vez, sendo que só queria continuar dormindo, profundamente foi como foi durante a tarde, por dois ou três dias, até que essa agonia passe, até que esse sentimento passe, mas dormir não adianta, tomar remédio não adianta, nada adianta... 

Quantas decepções não aparecem por conta da ilusão de sermos ouvidos? Quantas vidas destruídas pela esperança de encontrar alguém que nos entenda? O homem sempre ergue seus edifícios de mentiras, e a vida se encarrega de derrubar cada um deles com uma força impossível de se resistir. Isso porque tudo o que construímos baseados na premissa de que as pessoas podem de algum modo se entender, é apenas areia, e logo se desfaz no ar. O que podemos entender do outro é uma gota, em comparação ao oceano de percepção que cada ser possui. Por isso tudo o que construímos desaba, se desfaz e, no final, tudo retorna ao nada. 

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