domingo, 12 de dezembro de 2021

Aproximação

Ele vai se aproximando, muito lentamente. Começa bem ao fundo, como um ressoar de sinos ao longe, uma pequena procissão no fim da rua, um crescendo que começa com um violino solitário, quase imperceptível, mas que vai aumentando, aumentando até conquistar espaço, até soar como uma orquestra inteira, seção por seção, aumentando, até não haver mais espaço, até não me deixar mais respirar, até prender os meus sentidos todos, até me prender completamente, me tornando cativo, prisioneiro de um calabouço de onde não dá pra escapar. Por fim, ao atingir o seu ápice, ele me transforma, me ateia fogo, me faz correr, correr como se fugisse de algo, correr até ficar arfante, tomado, possuído. E, na verdade, eu fujo, fujo desse sentimento que nasce no meu peito e se esparge por meu corpo inteiro, que me transforma em cinzas, me faz ao retornar ao nada. Ele é o desespero, que me consome, que me mata lentamente, que me toma por completo, que me torna ao nada. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário