terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Três Experiências

Como ela pode ser tão forte? De onde essa mulher tira tanta força? Como pode ela, mesmo doente, ter mais força do que eu nos meus melhores dias? Ela faria inveja a homens como Hércules e Atlas, ela carrega não apenas o seu mundo nas costas mas também o meu. Queria saber de onde vem essa força, queria ter essa força! Queria ser tão forte quanto ela, aguentar tanto quanto ela. Mas o quão distante eu estou disso? A cada dia parece que eu fico mais e mais fraco, meu corpo definha, minha mente estremece, e ela continua firme, impassível, mesmo com a idade avançando sem parar, mesmo com os problemas se multiplicando a cada dia ela não se deixa paralisar. Como eu posso ser filho dela e ser assim tão fraco? Como ela sendo tão forte pôde gerar a mim, assim tão fraco? 

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Gosto quando posso me dar ao luxo de me desligar, de dormir por horas, de fingir que minha existência não ultrapassa os umbrais do meu quarto. Parece que só nesses momentos a minha vida tem algum sentido: quando sinto que eu não sou, quando suspendo toda a credibilidade no meu ser, quando morro sem morrer, vivo sem viver em mim. E tão alta vida espero, que morro para o mundo, vivendo para dormir profundamente sem viver em mim. E eu canto, como vou cantar ao sair deste mundo: eu morro de amor! E durmo pelo mesmo motivo, mas por não suportar o peso de tanto sentir que é melhor não sentir nada. E então, fora mas sem sair de dentro de mim eu consigo sentir como se nada houvesse aqui dentro, mesmo que nada haja fora de mim, mas uma leveza de quem consegue conviver com os próprios pesos, e morrer sem morrer é uma graça, sem outra igual para mim que sente demais.

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O que eu queria é que hoje fosse como ontem, que eu pudesse não ser, que eu pudesse dormir, que eu pudesse fugir e me esconder. Queria poder sentir sempre essa sensação, de que não existo, de que o mundo pode acabar e eu continuarei dormindo.  Queria poder ignorar tudo e todos ao meu redor. De todos os dias esses dias são os melhores, nem se comparam com os dias de animação, de hipomania, são dias que sinto posso ser eu mesmo, não sendo nada, não sendo ninguém Uma demonstração clara da minha incapacidade de ser alguma coisa, mas que traz paz ao meu ser. 

Claro que eu sei que isso é só o efeito viciante dos meus remédios, que me prendem cada vez mais a eles como correntes invisíveis prendendo minha mente distorcida aos efeitos soníferos que tanto me acalentam. Mas eu realmente queria poder dormir tão profundamente que não mais acordasse, seria feliz se isso acontecesse.  Me perder pra sempre num mundo onírico de descanso e escuridão, onde não houvesse cansaço do corpo e da mente, onde não houvesse cansaço, onde não houvesse pressão, onde só houvesse a infinita escuridão e o silêncio reconfortante da paz. 

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