segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Na contramão

Foi uma segunda preguiçosa, com o céu ameaçando despencar em chuva a qualquer momento e enfim se entregando as vias de fato no fim da tarde, tarde que chegou depois de longas horas regadas de tédio e vontade. Uma segunda marcada pela chegada de um novo ciclo, um pouco de energia circulando timidamente pelas minhas veias. 

Impossível não permitir que os pensamentos voem e desapareçam no ar, sem se deter em nada em particular, lançando apenas sobre a consciência lampejos de sentimentos, como uma pitada de carência, sentida no escuro do quarto na companhia de músicas doces que falam sobre amor ou sobre qualquer experiência boba que foi musicalizada por um jovem cheio de inspiração irrefreável resultando em melodias assim sem formas. 

É como me sinto, aliás, disforme, meio sem caber em mim mesmo. Pensando que sim, uma companhia agora ia bem, bem acompanhada dessa música e dessa chuvinha batendo na janela. Mas também está bom aqui, deitadinho sozinho no escuro, vendo no nada as notas se misturarem com as gotas e comporem uma nova experiência. É, isso é bom. 

Tentei ler um pouco mas quase nada prendeu a minha atenção. Uma resenha da última temporada de uma série e alguns editoriais sobre filosofia política foram as únicas coisas a segurarem, todo o resto escorrendo rua abaixo como a água da chuva que cai lá fora. 

Na contramão dos dias escuros que passaram estar no escuro agora não é assustador ou angustiante, apenas é. E isso é bom, conseguir deixar os fantasmas atrás da porta por um tempo, um pouquinho longe de mim. 

Mas também é bom estar sozinho, mesmo querendo uma companhia. É bom poder escrever sobre tudo e qualquer coisa, imitando em partes os pensamentos de diversas cores que pululam em miríades na minha cabeça. É, isso é bom. 

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