terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Entrada

"Saturada de males se encontra minha alma, e minha vida já se aproxima da região dos mortos." (Sl 87)

Eu nem sequer aproveitei direito a pequena porção de luz que recebi em minh'alma e já recebo pesado golpe do destino. Fui obrigado a ficar cara a cara, novamente, com a verdade inconveniente da minha perspectiva de futuro. Foi um golpe baixo e cruel, que não só me desestabilizou como me lançou de volta para a escuridão da qual eu, com tanta alegria, começara a sair.

Não se trata de outra crise, mas de uma notícia que recebi e que me afetou, que quase me matou, não descartando ainda essa possibilidade, de que ela possa me matar a qualquer dia. 

É o olhar lançado sobre o amanhã, que veio para me assustar. Um amanhã sozinho, difícil, cruel. No entanto é um amanhã que todos enfrentam mas que eu, por algum motivo, não consigo senão tremer diante de sua visão. 

Parece que eu não mereço a felicidade, a tranquilidade nessa vida, senão que minha alma não se aquieta nem por um instante: ela se inflama vivamente de amor e de pavor, simultaneamente, e chega a quase explodir. 

O caminho que quero seguir é o caminho tortuoso, o caminho das rosas, crescer por entre os espinhos. Mas eu sou tão pequeno e fraco que não posso nem mesmo colocar os pés nesse caminho que já me deparo com as dificuldades. 

A primeira delas é o sentido da completa ausência de Deus, provocada pelo meu apego ao pecado que sufocou a Palavra que havia em mim. Me vejo então sozinho, num vale escuro, tentando encontrar alguma luz, mas sentindo apenas o peso da solidão, do medo e do abandono. É como se toda e qualquer presença do divino tivesse se extinguido e eu, pobre, que farei? Que patrono invocarei? 

Me coloco à entrada da Primeira Morada, e tento entrar, enquanto meus próprios pecados me puxam na direção oposta. Enquanto essa secura que sinto não me permite sentir presença nenhuma, senão que sou tomado pelo medo, assomado pelo desespero diversas vezes, clamando por ajuda e exclamando em alta voz:

"Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?" (Sl 21)

Nenhum comentário:

Postar um comentário