terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Demora

É, tem sido uma crise depressiva que demora a passar. Eu a sinto a todo momento, seja deitado, quieto, sem conseguir me mexer, seja mesmo quando consigo andar um pouco, e nem o vento fresco no meu rosto consegue amenizar o que sinto. 

Trata-se de uma sombra, um peso, uma constante sensação de torpor, de que algo está errado, de que algo se aproxima. É uma constante ameaça, insegurança, um imenso vazio que parece crescer sem limites, um sufoco, uma imperfeição fundamental, algo que rouba as minhas forças, um alguém que segura um punhal contra minhas costas. É o querer dormir, sentir sono o tempo todo mas não conseguir assim que me deito. É sentir tudo, e não sentir nada ao mesmo tempo. São meus óculos sujos, a minha pele oleosa, minha vontade de não fazer nada. E é uma coisa que vem e permanece, às vezes por semanas, como têm sido. 

E parece que não terá fim, mesmo sabendo que logo essa depressão dará lugar a uma hipomania e depois a outra depressão. Mesmo sabendo que a qualquer dia tudo pode mudar, eu não sinto isso dentro de mim. Buscando em profundidade no meu ser eu só encontro a escuridão. Por vezes um pouco mais clara, apenas uma vontade de ficar deitado por uma hora mais, outras vezes com o lançamento do meu ser no abismo mais escuro, de onde não parece haver saída, de onde me torno incapaz de mover um braço sequer, onde parece que encontrarei o meu fim na próxima vez que fechar os olhos. 

Tem ainda as crises de pânico que pioram nessa época, o mundo que parece que vai se abrir sob meus pés e me engolir, num abismo sem fim. E assim, como diz o filósofo, parece que meu próprio ser torna-se um abismo, um grande vazio, como se pudesse engolir o mundo ou, ao menos, me engolir ao ver meus próprios olhos num espelho. Quanto mais demora a depressão, piores ficam as crises de pânico, e mais dependente de remédios eu me vejo preso a esse inferno, num ciclo sem fim de medo e vazio. Até mesmo eles, que deveriam me libertar, reforçam a ideia de prisão nesse calabouço infinito que é meu próprio coração. 

Só espero que ela passe logo, ou que diminua, que me deixe viver um pouco, sentir um pouco de alegria, que não seja tão incapacitante assim. É só o que posso pedir, que viva um pouco, antes do fim inevitável. 

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