domingo, 5 de dezembro de 2021

Do Ser ideal

Meu corpo dói, reclamando do esforço demasiado depois de dias parado numa longa crise depressiva. Fiquei dias na cama, sem conseguir me mexer e, o pouco que saia, era sempre por breves instantes, antes de voltar pro torpor. Quando consegui sair desse torpor e agir um pouco, transformando, por mais mínimo que seja, o mundo ao meu redor, o corpo logo reclama. Mas eu também sentia dores enquanto só ficava deitado, não tendo força pra me levantar, e agora dói porque levantei, de qualquer forma há dor. 

Eu queria ser mais resignado nesse ponto. Não ser tão melancólico a ponto de reclamar tanto das minhas dores. Queria suportar silenciosamente mas, eu simplesmente não consigo, eu preciso falar, preciso exorcizar esses fantasmas de algum modo ou vou explodir. E a sensação de estar prestes a explodir é algo que conheço bem, e sei o quão assustadora ela pode ser. Queria eu ser um herói capaz de suportar com altivez as dificuldades, como foram os grandes santos, mas eu sei bem que minhas dificuldades são mínimas e até delas eu reclamo. 

Sou dado às murmurações, aos lamentos, sou dado a me perder em devaneios, em sonhar com refrigérios e recompensar, a me iludir em delírios de onipotência. Qualquer barulho é demais pra mim e se torna uma grande confusão aqui dentro. Sou uma mente fraca com um coração e um corpo mais fracos ainda. E já seria mais forte se suportasse minha fraqueza sem dela reclamar, se sorrisse enquanto colhia rosas e espinhos, mas se os espinhos me ferem eu logo me ponho a chorar, pela gota de sangue que eles me tiraram, como se tivesse sido transpassado por uma faca ou apunhalado pelas costas. 

Sou dado aos exageros, e isso não é bom, é como se nunca visse o mundo como ele realmente é, sempre coberto por um véu de melancólica névoa. Queria ser mais realista, conseguir enfrentar as coisas com mais coragem, saber enxergar a verdade e não fugir dela como sempre faço. Mas, o que mais um covarde sabe fazer senão fugir e se esconder? 

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