sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Tormenta e Calmaria

Não consigo sequer explicar o quanto eu queria poder ser e fazer mais, e o quanto sou incapaz de corpo e de mente. 

Dois dias atrás eu tive um ataque de pânico dos mais graves, e eu nem sei o que motivou isso, e acabei ficando em péssimo estado, e pior, deixando minha mãe ainda mais preocupada comigo. Além de uma crise depressiva que já dura algumas semanas eu ainda dou esse tipo de trabalho, no meio da noite, com a minha idade. Eu jamais terei técnica literária suficiente pra descrever o quanto isso é patético e deprimente. 

Além de fazer tudo nessa casa ela ainda arruma tempo pra se preocupar comigo, e deixa de dormir pra vigiar o meu sono com medo de que eu tenha outra crise. 

Agora eu me sinto a pior pessoa do mundo, por estar matando aquela que é a mais importante pra mim, por ser como um parasita que só é capaz de destruir. Eu sou um monstro. 

E nem mesmo depois dessa constatação eu consigo fazer alguma coisa, me tornando ainda mais impassível, deitado, entorpecido, enquanto ela se preocupa com o que eu vou comer. 

Não existe estado humano mais abjeto, ninguém poderia descer tanto assim, mas eu o fiz, não sendo mais digno nem mesmo de ser chamado homem mas sim verme, um verme que rasteja na podridão da própria existência, que não tem sentido no ser, que só serve pra sugar a vida daqueles que ama e nem mesmo é capaz de dar alguma coisa com esse amor, tão pífia é sua maneira de ser. 

O que mais eu poderia sentir de mim mesmo além de nojo? Que gostaria de sair de mim e dar eu mesmo uma cusparada na minha carranca? Não sei como me aceitam ainda andando entre os homens como se fôssemos iguais quando eu notadamente estou muito abaixo de qualquer existência!

X

As histórias de amor têm sido o único alento dessa alma atormentada, o único refrigério que meu espírito em agonia recebe nessa existência miserável, nessa baixeza sem igual. As histórias de amor são a única coisa que vale a pena aqui nesse abismo onde vivo desterrado, absorto em toda sorte de maldades, chafurdando na lama. O sorriso doce dos enamorados, os beijos apaixonados, os toques simples cheios de significado, essas coisas, essas pequenas grandes coisas são as únicas a alimentarem essa pobre carcaça que me tornei. Se alguma coisa vale a pena nesse mundo certamente é o olhar dos que ainda amam nesse paraíso corrompido. São esses casais que ainda trazem um lance de luz nessa escuridão, uma brisa que sopra fresca acalmando os nossos ânimos, nos dando um pouquinho de esperança nessa vida tão absurdamente fétida, nesse universo tão hostil, nessa humanidade tão inviável. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário