sábado, 4 de dezembro de 2021

Moinho

Eis a confirmação! Depois de um dia horrível me mantendo acordado e sendo atormentado por diversos fantasmas eu finalmente tive paz! A paz de uma tarde inteira de sono profundo, a paz de adormecer nos braços de uma divindade que me deu nova energia para suportar um novo dia. Acordei disposto, feliz até, com energia o suficiente pra suportar os caprichos das pessoas que me rodeiam. Antes disso eu sequer conseguia me suportar de pé, a diferença é gigantesca. Assim, agora, me sinto mais vivo do que antes, minha mente não tão pesada pela sombra dos demônios que me atormentam, embora eles não tenham ido embora. É a confirmação, íntima, de que me obrigar a viver todos os dias, embora pareça belo dizer que enfrentei cada dia bravamente, não é a solução. Preciso do meu tempo para repor as energias, para me fechar em mim mesmo, para descansar a alma que há tanto se agonia. Sinto-me revigorado, e a sensação é ótima de, mesmo durante uma crise depressiva, conseguir me alegrar um pouco que seja após uma boa dose de relaxantes e soníferos, um preço a se pagar para ter paz num mundo de caos. 

X

Minha mente vaga sem rumo, o que não é nenhuma novidade. Já estou acostumado a dias que passam em branco, sem nada especial. E eu nem me importo mais, alguns dias apenas são, e eu me contento com isso. Não tenho mais grandes expectativas quanto a nada. 

Os dias? Chatos e intermináveis. As noites escuras e assustadoras. O garoto novo? Não está interessado em mim. Nada muda e o mundo continua a girar absolutamente indiferente a mim. E é com um semblante quase sorridente que eu digo isso, um sorriso sarcástico, de quem ri do próprio túmulo sendo cavado, numa ironia mortal. Não espero nada da vida porque nada que ela ofereça pode me encantar. A verdadeira felicidade não se encontra aqui. Tudo o que posso desejar é morrer desprezado e ignorado na esperança de uma vida melhor do outro lado, daqui já não espero mais nada. 

Queria muito que isso se parecesse com um tratado teológico sobra a santidade ascética, como muitos místicos o fizeram, e que desejavam realmente morrerem desprezados por todos para assim chegarem ao altar da santidade. Mas não é o caso. Eu só espero o desprezo porque vejo que é só isso que a vida tem a me oferecer. Eu não sou um grande espírito capaz de suportar dores e penúrias pela santidade, eu sou fraco e melancólico, resmungo por qualquer coisa e sou incapaz de grande feitos. Não tenho grandes esperanças, apenas queria poder morrer em paz e no mínimo estado de graça possível. Não posso desejar mais do que isso porque aprendi da vida que ela é um moinho que tritura qualquer sonho, então que eu sonhe moderadamente para que, quando eles forem destruídos, a decepção não seja tão grande. 

E assim eu vou vivendo meus dias, sem esperar muito na esperança de que a decepção não seja muito grande. Assim, quando a vida reduzir as minhas ilusões a pó eu não vou sofrer tanto. 

X

Eu nem sei mais dizer o que há de errado. Tá tudo assim tão estranho, vazio, sem contorno. Tudo meio sei lá, sem sentido, meio sem propósito. Eu vou apenas vagando, dia após dia, como um corpo sem alma, sem nada dentro, mas eu continuo sentindo, e sentindo muito, e ao mesmo tempo sem sentir nada. Me sufoco com meus sentimentos e pensamentos ao mesmo tempo que um vazio me oprime e me esmaga. Essa ambivalência me corta e, ao mesmo tempo, é a única coisa que atesta que eu ainda estou vivo. É solitário, mas eu gosto do silêncio, ainda que doa. Em alguns dias eu sinto que flores crescem do meu peito, que eu me encontrei sem precisar de ninguém mas, em outros dias, é como se ervas daninhas crescessem a ponto de me sufocar. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário