terça-feira, 6 de abril de 2021

Dissipando

Ele se deitou com a cabeça apoiada em meu peito e eu passei os meus braços ao redor do seu corpo. Ele tremia, não mais de frio e isso eu sabia. Encostei o meu rosto em seu cabelo, num leva afagar e senti o cheiro fresco do shampoo, ele se encolheu, envergonhado e tremendo com ainda mais força. Perguntei qual a razão de ele ainda estar assim e ele disse que não entendia também, mas que gostava da sensação. Disse a ele que o calor de dois corpos ao se abraçarem e beijarem pode dissipar o frio e fazer as coisas voltarem ao normal. 

As luzes estavam quase todas apagadas, e já era bem tarde da noite. Uma brisa fria entrava pela janela, agitando as cortinas brancas e fazendo revelar um pouco da luz amarela do poste que ficava perto do nosso quarto. Era nosso último dia de viagem e, naquela tarde, havíamos esclarecido um ao outro o que sentíamos, com ele me beijando quando eu perguntei se aceitava namorar comigo. Essa era então a noite em que deveríamos dar mais um passo.

Muito embora a nossa intimidade tenha crescido muito desde que vim morar nesse quarto, sob ordens de nosso treinador que queria que o treinador assistente ficasse de olho no aluno problemático, porém de talento promissor, as coisas avançaram rapidamente desde que cessamos as brigas e demos lugar ao companheirismo. Eu logo adoeci e, qual foi a minha surpresa, ele se prontificou a cuidar de mim, no início de modo relutante, ainda confuso sobre o que sentia a respeito do treinador com quem brigara tantas vezes e que chegara a ameaçar.

Mas agora estávamos ali, abraçados numa cama de solteiro, com ele tremendo de nervoso ao sentir a minha respiração próxima de seu pescoço. Ao terminar de dizer que se nos beijássemos poderíamos nos esquentar, ele levantou um pouco o olhar, algo de medo e desejo, numa miscelânea de sentimentos, e respirando fundo, se aproximou ainda mais do meu rosto, fechando os olhos. Eu não pude me conter ao ver aqueles lábios rosados vindo em minha direção, segurei o seu rosto com uma das mãos e me aproximei em resposta, tocando-o levemente, mas mais do que suficiente para fazer o calor preencher todo o espaço. Ele já não mais tremia, senão que uma de suas mãos havia largado o cobertor e agora segurava firmemente o meu braço. Eu apertei a sua cintura com firmeza e aproximei todo o seu corpo do meu, sentindo agora o seu coração bater de encontro ao meu. 

E então eu senti o calor irromper de dentro de mim, circular pelo seu corpo e penetrar o meu com o calor que irrompia dele. Era uma troca, um aquecendo o outro, numa cumplicidade que finalmente se transmutou, por meio do abraço e do toque de nossos lábios, num amor declarado. É, agora o nosso calor dissipou não apenas o frio mas, naquele instante, fez desaparecer todo o mundo, deixando apenas a nós dois, naquele momento de intimidade, onde finalmente nos tornamos um só. 


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Baseado no segundo episódio de Y Destiny

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