quarta-feira, 14 de abril de 2021

Fotos

Ontem foi um dia atípico, aproveite de uma hipomania para sair um pouco de casa e tirar umas fotos num parque ecológico aqui perto. Foi interessante, e gostei muito do resultado, seja das fotos quanto de ter saído um pouco, tomado um ar, um pouco de perspectiva. 

Gosto de tirar fotos e postar nas redes sociais, muitas vezes me pego sonhando sendo um daqueles influencers com milhões de seguidores, que postam uma foto e lançam tendência, com as pessoas procurando uma roupa igual ou comentando sobre como está meu cabelo ou sobre como tal paisagem é bonita. Também nas outras redes sociais eu estou sempre falando como se tivesse um milhão de pessoas interessadas no que digo. Já cheguei inclusive a pagar pra ser divulgado, participei de ações pra conseguir mais seguidores... 

Enquanto estava na aula dessa manhã eu comecei a pensar um pouco mais sobre isso. Fazia planos de tirar fotos em outros lugares da cidade, pra variar no tipo de postagem, mais uma vez como se tivessem centenas de pessoas interessadas em me ver de algum modo. Mas a realidade é que ninguém está realmente interessado. De onde vem essa vontade de querer ser visto, ouvido, assim? 

Acho que aquela parte carente minha, que sempre reclama da solidão, pretende preencher seu vazio com a presença dessas pessoas. É a sensação que tenho quando alguma foto tem muitas curtidas ou um tweet muitas interações. É a sensação de que, de algum modo, o que digo e faço é importante e, portanto, eu também sou importante. Isso é engraçado. O homem, tão vazio, convence os outros de que é interessante e, assim, os outros o convencem. É uma forma de raciocínio psicótico, e é não só patético mas deprimente, se pensar bem, ver que o sentido da vida de uma pessoa está na quantidade de pessoas que afirmam que ela tem um sentido na vida. 

É isso que acontece quando eu posto um monte de comentários aleatórios sobre as séries que vejo ou sobre qualquer aspecto da vida, como se a humanidade em sua totalidade estivesse ansiosa em saber o que penso. 

Gostaria de conseguir descrever o sorriso irônico que agora está no meu semblante, gostaria de poder descrever o quão desprezível eu tenho me sentido por isso. É como se dissesse pra mim mesmo "eu sou um coitado" mas preciso mostrar aos outros que sou grande, feliz, e assim os outros, ao dizerem que eu sou grande e feliz vão me fazer esquecer de que na verdade eu sou miserável e vivo chorando a minha própria sorte pelos cantos, lamentando cada aspecto da minha vida medíocre, implorando pela atenção de milhares de pessoas igualmente medíocres, absortas em suas próprias investidas psicóticas. 

Fato análogo eu percebi no último sábado, ao ser convidado para dar uma palestra de última hora na igreja. Como o tema sacramento se encontra dentre as coisas mais importantes da doutrina cristã eu me sentia culpado por não ter me preparado tão bem, mas como tenho uma vivência próxima dessa realidade ainda assim eu consenti em ajudar. No entanto, o que aconteceu, é que as pessoas ficavam me olhando com uma expressão absolutamente opaca, como se falasse de algo tão bobo, tão idiota, que parecia que estava discursando sobre a criação de chinchilas e, na minha cabeça, aquilo era algo que todos, a começar por mim, deveriam dedicar máxima atenção em aprender e viver. 

Mas onde está o ponto em comum nesses dois assuntos? A falta de conexão do ser com a realidade circundante. Por um lado a fuga pro mundo digital na tentativa de esquecer a frialdade desse mundo real onde não somos importantes e nada temos a dizer, de outro a realidade esmagadora dos sacramentos que são ignorados e tomados como rito de passagem social, apenas. É aquilo que disse o velho Buck, mais uma vez: "Quando a gente acha que chegou no fundo do poço, sempre descobre que pode ir ainda mais fundo. Que escrotidão."

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