segunda-feira, 26 de abril de 2021

Sem um final

A apatia está estampada no meu rosto. Meu corpo só responde aos comandos mais básicos. No chão do quarto uma camisa branca tem manchas escuras de sangue e meu braço está repleto de linhas que ontem escorriam sangue e dor. De algum modo sentir esse sangue saindo de mim, a dor da lâmina no braço, a música alta e o ofegar entre lágrimas me faz esquecer a dor que sinto, o sentimento de completo vazio e, ao mesmo tempo, de estar sendo sufocado pelos meus próprios pensamentos. 

Como posso me sentir vazio e tão absorto ao mesmo tempo? É uma tensão que não consigo precisar e, no entanto, convivo com ela diariamente. 

Estou deitado e sem força alguma para fazer o que quer que seja. Finjo dormir para que ninguém me incomode, responder é trabalhoso demais. Ao mesmo tempo queria poder falar, dizer o que sinto, mesmo sem conseguir expressar nada do que sinto verdadeiramente em palavras, até mesmo estas são como um aceno, um balbuciar do oceano de sensações que me envolve. 

Por um lado experimento a mais completa solidão, o vazio me corroeu e deixou apenas uma casca vazia, mas é como se essa casca estivesse em chamas. É difícil dizer. 

Me surpreendi quando uma pessoa de anos atrás se mostrou preocupada. Não me surpreendi quando pessoas próximas fingiram que nada estava acontecendo. Estou cansado demais para me preocupar ou me chatear, no entanto. A verdade é que a apatia me impede de sentir e, no entanto, eu estou assim justamente por sentir demais, pensar demais, me chatear demais. 

É com uma velocidade estonteante que eu mudo de frequência. De um sono pesado que me abate por horas ao estado de quase animação que me permite escrever, falar e me emocionar com uma série até chorar. É ter um sonho que não consigo entender e a certeza de que não tenho nenhuma esperança. É a vontade de querer voar e o saber que nunca poderei levantar voo. É desistir de tudo e, ao mesmo tempo, não conseguir deixar de olhar para trás. É, ao mesmo tempo, o ímpeto que me faz querer escrever e o desânimo que me obriga a deixar todos os textos sem um final decente. Uma eterna tensão, ourobouros. 

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