segunda-feira, 12 de abril de 2021

Falando sozinho

"Ah, quem me dera eu pudesse ser a tua primavera e depois morrer..." (Vinícius de Moraes)

Não quero mais dizer nada, não quero que se disponham a me ouvir, ou que digam estar ao meu lado. Eles não conseguem entender. Ignoram cada palavra do que digo e interpretam conforme querem. Ainda que tenha com quem conversar é o mesmo que falar sozinho, não há resposta, não podem enxergar o que está bem diante de seus olhos. Nunca enxergaram, eu nunca existi de verdade para nenhum deles. Tudo o que fiz foi barulho, como o vento que sopra e agita as folhas secas de um jardim, mas nenhum significado tem para essas pessoas, é apenas vento, a voz que sai de mim é apenas um sopro que se perde, não tem sentido algum para eles. Melhor que me cale, melhor que fique só, melhor que...

Ele não entende que eu o quero próximo a mim, que quero seus braços ao redor do meu corpo pequeno, que quero seus lábios sob a minha pele, que quero sentir o perfume do seu suor escorrendo em meu corpo. Ele não entende, por mais que meu olhos gritem, por mais que cada gesto meu, por mais que cada palavra que eu diga esteja repleta de meu amor, de meu desejo. Ele não entende que meu sonho mais profundo é aquele em que nós, em jardim secreto em que para ele só guardava, eu terna o regalava e dos cedros o leque o refrescava, largando meu cuidado por entre as açucenas olvidado. Mas ele não percebe, e quando conto esse sonho, é como se falasse sozinho.

As minhas lágrimas continuam caindo, pesadamente. E eu continuo procurando companhia na rua, algum braço que possa me oferecer um pouco de calor, algo que possa me tirar dessa fortaleza de gelo e solidão. Mas é tudo em vão! Eu continuo caindo mais e mais, afundando, me afogando em lágrimas e soluços, sem que ninguém venha, sem que ninguém me escute, sem que ninguém perceba que, por trás de simples palavras como "Eu te amo" há todo um oceano de significados que eu não consigo dizer, mas que estou gritando a plenos pulmões, perdendo completamente o fôlego apenas para dizer que o amo. Mas eles não entendem. E eu continuo andando com os pés ensanguentados, sem rumo, sem esperança e sem voz... 

Sinto que estou cada vez mais e mais distante da luz, tudo o que sinto é a escuridão e o frio, a solidão, o medo que pouco a pouco se torna pavor, a dor, o silêncio, cada vez mais fundo, num abismo sem fim, onde não há nenhum traço de vida... E mesmo que cada traço do meu rosto grite isso, eles não conseguem ver ou ouvir. É como se olhassem para uma parede, como se eu falasse sozinho. Minhas palavras não podem alcançar ninguém, e é condenado a isto que eu fui, a morrer sozinho, sem conquistar ou tocar ninguém. 

Quem disse que o amor é mais forte do que tudo mentiu, o amor é apenas causa de dor e sofrimento, é apenas uma razão que os homens têm para para se fazer sofrer. Uma testemunha disso são as linhas finas de sangue que enrijecem o meu braço. Como não posso lutar no mundo, como não tenho força pra lutar contra meus próprios sentimentos eu só me machucar, eu só posso tirar sangue daquele que, na solidão do meu quarto, é mais fraco do que eu. Amar é sinônimo de sofrer, de matar-se... 

"Quando a gente acha que chegou no fundo do poço, sempre descobre que pode ir ainda mais fundo. Que escrotidão." (Charles Bukowski)

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