quinta-feira, 8 de abril de 2021

Erros e Vazio

A fase hipomaníaca passou rapidamente, dando lugar aquela escuridão que lentamente foi ofuscando as luzes, tornando as coisas cada vez mais turvas, me impedindo de entender o que se passava ao meu redor. 

Um erro egoísta amarga a minha boca, sei que decepcionei mas ninguém me odeia mais do que eu mesmo, ninguém se decepciona mais comigo do que eu mesmo, todos os dias. E nada pode ser pior do que isso. Quisera eu morar longe daqui, não precisar dar notícias porque sei que as pessoas estariam bem melhores sem mim, ter um emprego que me permitisse ficar com meus amigos nos meus últimos dias e, enfim, morrer sozinho como deve ser. Sem ser lembrado, esquecido nas areias do tempo como um átomo a mais que se levantou mas logo se perdeu na imensidão quântica do cosmos como se nunca tivesse existido.

Essas palavras são fortes, eu sei, mas as que estão gravadas no meu peito foram escritas com ferro e fogo e, portanto, estão muito profundas e doeram muito mais do que qualquer coisa que eu consiga dizer ou fazer. Mas depois que o fogo cessou não restou nada, apenas um absoluto vazio, vazio por notar que isso que eu sinto é a constatação de que nesse mundo nada pode me oferecer o mínimo de realização que seja, que tudo o que eu um dia desejei, do fundo do meu coração, é hoje impossível aos meus braços curtos.

E eu o olhei, sem que ele me notasse. Vestes ao chão, e ele não olhou para mim nem uma vez sequer. Um coração à frente do nome dela, mil vezes mais importante do que eu jamais sonhei. Os homens com quem eu saio não se importam com nada disso, para eles gozar é tudo que importa, mas isso em nada faz eu me sentir melhor, muito pelo contrário, cada noite nos braços de alguém é um noite a menos nos braços dele e, portanto, uma noite de mais vazio. Como esta, em que os ventos gélidos e secos batem com violência nas janelas, fazendo um barulho alto e abafando o eco do vazio do meu peito. As curtidas, os comentários rápidos, os encontros frívolos, é uma tentativa mais do que demente de suprir a falta que ele me faz. 

Barulho. Outro tema delicado. Eu que vivo no silêncio do vazio abomino o barulho que faz volume mas não preenche. Ele apenas ilude. Mentes vazias falam alto para tapar o vazio que sentem, enquanto a minha mente vaga por milhares de realidades, ela grita em desespero por não encontrar sentido em nenhuma delas, e por isso eu fico em silêncio ou, se digo algo, digo baixinho, pois não preciso adicionar nada aos já tumultuosos pensamentos, a já calamitosa realidade que abriga minha mente distorcida pela solidão e o abandono.

Só queria ser dele, só queria poder tocar aquele corpo forte, sentir aquele coração em meu ouvido, me deixar aquecer pelo calor de seus lábios, mas isso é algo tão distante quanto a terra está do céu. Enquanto ele voa eu rastejo comendo do pó dessa existência miserável, e uma cobra só pode sonhar em voar pelos altos céus, até ser capturada e devorada pela águia que voa naquele mesmo céu que ela tanto admira. 

Mas olhar em seus olhos e ver que nunca serei bom o bastante para ele, assim como não fui para tantos outros, assim como não fui para os meus pais e, principalmente, assim como não fui bom o bastante para mim é nada mais do que ser transpassado por uma espada de aço frio como gelo, e eu só lamento que essa espada que transpassa meu peito não possa também cortar a minha garganta.

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