quarta-feira, 7 de abril de 2021

Única saída


As mensagens se acumulam, o sono não diminui mesmo depois de dez, doze horas dormindo, a paciência se esvai como fumaça no vento. Não quero sair do quarto ou falar com ninguém, olhar pra essa casa ou pras coisas que há nela me deixam ainda mais deprimido. Tudo o que há em mim é uma vontade de desaparecer. 

Sei que logo mais terei que tomar banho e me arrumar para um compromisso. Saber que serei obrigado a ver pessoas me incomoda, me dói. Eu queria poder ficar aqui, indefinidamente, até que esquecesse da minha própria existência, até que cessasse de ser, até que também eu sumisse como fumaça no vento. 

Raspei o meu cabelo há alguns dias, e agora me sinto ainda pior quando vejo as fotos dos meninos bonitos de cabelos lisos e brilhantes na internet. Não consegui me concentrar em mais de dez páginas na leitura, não consegui ficar acordado em mais de duas músicas... É como se estivesse preso na névoa, sem conseguir enxergar direito, sem conseguir sequer saber para onde olhar. 

É uma crise depressiva das grandes, aliada ao cansaço pós semana santa, quando não sei o que fazer e não tenho disposição pra fazer nada, não conseguindo sequer raciocinar direito, sem saber que rumo irei tomar. 

Novamente sou tomado pelos pensamentos suicidas. Já desde alguns dias, na verdade, é como se meus braços ardessem para serem cortados por lâminas e como se elas brilhassem de modo convidativo, desejando meu sangue. Também meus pés, que já não têm força para irem à lugar nenhum, teimam em sugerir que eu vá até um lugar alto, donde possa me atirar e sentir o vento no meu rosto como a última sensação antes do chão frio que deseja despedaçar o meu corpo. 

Já não consigo mais afastar esses pensamentos. Quanto mais penso na minha vida mais essa me parece a única saída. Vejo as contas de casa se acumularem, mês após mês, vejo a perspectiva de um emprego sumir, e de um emprego decente praticamente inexistir, vejo a minha irmã sendo uma inútil que faz o meus pais sofrerem, vejo que eu também sou imprestável e que apenas ocupo espaço, um espaço desnecessário, e que por isso mesmo deveria desaparecer pois, além de não ajudar em nada eu apenas atrapalho. Mas eu não consigo ajudar. Eu não consigo sair da cama, como posso ajudar no que quer que seja? Eu sou só uma boneca de trapos, sem sonhos, vazio, que fica onde quer que o joguem, eu não sou nada e nem ninguém. 

E assim me sinto mais um dia. O sono batendo novamente, a promessa não dita de que talvez algo esteja melhor quando eu acordar, mas eu sei que não vai estar. Continuaremos cheios de dívidas, numa casa cheia de pessoas, com muito barulho, continuaremos lutando pra não deixar faltar o básico, e o básico é apenas isso, não há nada de belo nele, e para uma alma que almeja o belo viver assim é o mesmo que ser laçando aos porcos. 

Por isso a total desesperança no olhar, o anseio pelo fim, o vazio no lugar da essência... Por isso o fim torna-se a única saída, libertação. 

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