Uma vez mais me vejo tomado da mais profunda desesperança. A noite de ontem foi puro terror. Me senti inquieto, sendo alvejado por pensamentos malignos a todo momento, minha alma em completa desgraça, saturada de males, como diz o salmo, e meu corpo tremia em profundo pesar por si mesmo. Fui tomado pela solidão de tal modo que cheguei a sentir dor por me ver sozinho, no meu quarto que, normalmente, é meu refúgio. Cheguei a implorar para que dormissem comigo, para que pudesse sentir um pouco de calor. Me lembrei daquelas vezes em que ele e eu ficávamos deitados, conversando até adormecer, minha cabeça apoiada em seu peito, sua respiração no mesmo compasso que a minha. Mas foi em vão, dormi sozinho no mais absoluto frio e silêncio. Ninguém veio. Apenas os demônios voaram ao meu redor enquanto riam e zombavam de mim.
Senti como se minhas entranhas fossem arrancadas de mim. Com efeito, enquanto a lâmina rasgava a pele de meu braço, resultando em linhas vermelhas de sangue, eu senti que algo saía de meu coração, mas eu infelizmente não consigo dizer do que se tratava. Hoje de manhã, quando senti a dor pulsar lentamente e eu cobri o braço, não senti mais do que uma veemente indiferença. Percebi que meus olhos estavam frios e duros, e foi assim que eu olhei pra todos ao sair na rua.
De volta ao meu quarto eu quero fugir de todos. Na sala eles assistem ao futebol, uma festa sem sentido e com um barulho sem fim, minha irmã e a companheira vivem em seu mundo animalesco, minha mãe está absorta na própria depressão, eu não posso permitir de modo algum que ela me veja assim, não suportaria fazê-la sofrer, preferindo eu sofrer mais ainda na minha própria pele. Não quero conversar, apenas quero ficar aqui, em silêncio, esperando que passe, se é que vai passar, mas em silêncio, talvez habituado a solidão que me arrancou as entranhas assim como os olhos se acostumam a escuridão de uma selva. Só quero ficar aqui, e nada mais posso dizer pois minhas palavras não tocam senão a superfície do meu ser, tendo ainda um oceano por baixo delas que eu nunca conseguirei dizer...
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