terça-feira, 27 de abril de 2021

Resenha - Navillera

Esse post pode conter spoilers, prossiga por sua conta e risco!

Puxa, acho que nem sei bem por onde começar a resenha de hoje, tamanho o impacto dessa história. Algumas obras fazem mais do que nos divertir, são mais do que mera distração. Uma verdadeira obra de arte é capaz de fazer você conectar-se a ela de tal modo que a experiência humana ali retratada se incorpore de algum modo ao espectador, passando a ser uma experiência dele também. É assim que me sinto quando me deparo com uma grande obra: ela se torna parte de mim!

Navillera é um drama sobre Lee Chae-rok (Song Kang), um bailarino promissor de personalidade forte e Shim Deok-chul (Park In-hwan) um senhor aposentado que, aos 70 anos, decide realizar o antigo sonho de infância de tornar-se bailarino.

Qualquer pessoa que conheça um pouco sobre balé, e dança no geral, sabe que as carreiras nessa área não costumam ser muito longas, as pessoas se aposentam cedo, bem como costumam sofrer com lesões constantes, devido o esforço excessivo, mas isso só torna a arte ainda mais bela, por requerer que seus praticantes se doem completamente a ela, sacrificando muitas vezes uma boa parcela de suas vidas para atingir a perfeição. 

Depois de mostrar que esse era seu sonho de verdade, Deok-chul consegue Chae-rok como seu professor de balé, que vai lhe o básico. Ele mesmo, embora esforçado e talentoso, passa por uma crise, não conseguindo expressar seus sentimentos enquanto dança, resultado de um passado conflituoso que ele reprimiu por ser doloroso demais. Seu professor então acha que a companhia do senhor lhe fará bem, e os dois passam boa parte do tempo juntos, seja praticando balé ou lidando com as dificuldades da vida. Chae-rok é um menino delicado, que tem explosões de fúria com facilidade e não aceita ser frustrado, Deok-chul é um homem experiente e sábio, tem bom humor e consegue controlar o mais novo, no entanto, devido a sua idade ele também tem que enfrentar grandes dificuldades se quiser alcançar os seus sonhos. 

E esse é o ponto principal da história: como cada um corre atrás dos seus sonhos, seja na juventude ou só no fim da vida. Deok-chul não pôde se tornar bailarino na infância por conta de seu pai, mas decidiu correr atrás disso ao ver seus filhos criados e com família formada, já não dependendo mais dele e, ao confrontar-se com a perspectiva da própria morte e senilidade, numa experiência brutal com a perda de um amigo, ele decide que não pode esperar mais, ainda que pareça tarde. 

Chae-rok também corre atrás de se tornar o bailarino que tanto almeja, alguém que não se foca apenas na técnica mas que mostra de verdade quem ele é, mas para isso ele primeiro precisa derrubar as barreiras que construiu ao seu redor para não demonstrar o que sente aos outros, incluindo suas fraquezas e seus maiores medos. 

Os personagens secundários são inspirados por eles e cada um, ao seu próprio modo, começa a se dar conta de que nunca é tarde para correr atrás daquilo que se deseja. Seja como a jovem Shim Eun-ho, que acaba de sair da faculdade e procura um empregou ou Shim Sung-gwan que anos atrás largou a profissão de médico e agora, aos 40, busca encontrar seu próprio caminho. 

A série é uma grande inspiração para todos que, tendo um sonho, não tem mais a coragem de seguir em frente por conta de outras obrigações, como ter um emprego sério ou cuidar da família. A melhor forma de cuidar de quem se ama é justamente sendo feliz e, por conseguinte, fazendo o outro feliz por aproximação. Uma pessoa que apenas segue uma vida de deveres ignorando os desejos do seu coração não consegue ser feliz e, por mais que pareça fazer a coisa certa, ainda estará sendo infeliz. 

Os momentos tocantes são simplesmente arrebatadores, as lágrimas são constantes. O lidar com o outro que aprende a ver quem somos por trás das máscaras, a busca pela felicidade... É uma lição valiosa demais, e devemos aprendê-la custe o que custar, não importando a idade, pois nunca é tarde para correr atrás de um sonho e voar. 

A construção da atmosfera é excelente, o drama não é pedante e nem exagerado e a série consegue te emocionar sem forçar. Há momentos de sorrisos e lágrimas e, mesmo com doze longos episódios, ela não se torna maçante, muito pelo contrário, consegue te prender mesmo com poucas reviravoltas, cada personagem, cada trama, é construído com carinho e cuidado, e pouco a pouco vamos nos aprofundando, até que já nos sintamos parte da família. É impossível não se identificar com os dramas da família de Deok-chul ou não se sentir apegado ao Chae-rok, que pouco a pouco vai crescendo e tomando pra si a responsabilidade de tornar o amigo um bailarino de verdade e, assim, encontrar seu próprio estilo. Ele te conquista, te cativa e, no fim, te entrega ao gran finale, como no Lago dos Cisnes, o balé mais importante da história, que mostra como o amor verdadeiro pode vencer a maldade dando asas aos sonhos. 

Um fato interessante é que o nome do dorama, Navillera, significa justamente algo próximo de "como uma borboleta" fazendo uam referência não só aos movimentos de balé, que devem ser leves e delicados como o bater de asas de uma borboleta, quanto uma alusão ao voar, ao alcançar os próprios sonhos. 

Park In-hwan consegue cativar desde as primeiras cenas, e surpreende entregando uma carga dramática surpreendente conforme avança a história. A gente se vê feliz com a conquista de cada novo passo, com cada pequeno avanço, e sofre junto com a família ao descobrir as dificuldades que ele tem de enfrentar para conseguir chegar até onde deseja. Song Kang, que eu já conhecia de Sweet Home, me impressionou ainda mais, seja com o porte físico que ele adquiriu pra série quanto pela preparação que ele fez, dançando de verdade em muitas cenas. Também consegue prender com um personagem forte, que precisa aprender com o passado para alcançar o seu lugar no mundo do balé, está simplesmente sensacional, e os dois juntos em cena é certamente um espetáculo. A emoção dos últimos episódios é permanente, e eles conseguiram manter isso com uma atuação fantástica. 

"Mesmo que não se lembre mais de mim, eu ainda vou me lembrar de você. E enquanto se lembrar do meu nome eu vou lhe ensinar a dançar balé."

10/10



Nenhum comentário:

Postar um comentário