terça-feira, 30 de maio de 2023

A Dor da Beleza


Não vou mais ficar horas vendo os belos homens, não quero ver seus rostos perfeitos, a sua pele lisa e brilhante, seus cabelos desenhados, suas roupas elegantes e os seus sorrisos cativantes. Não quero mais me iludir, não por hoje, com essa beleza que me machuca, que me faz sentir inferior, que me faz querer fechar os olhos e me esconder num quarto escuro, adormecendo profundamente sem pensar no meu reflexo. Prefiro viver num mundo sem meus reflexos, apenas isso. Então hoje diga a Maricotinha que eu mandei dizer que eu não tô, porque têm dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu, e eu morri, morri porque todos aqueles estão vivos, belos, encantadores, e eu só posso admirá-los, sozinho e em silêncio. A beleza também machuca. 

O céu da cidade chora mais uma vez, e vejo isso pela luz amarela da rua que se mescla com a escuridão da noite. Essa combinação carrega uma certa ansiedade das pessoas que já foram dormir e que aguardam cansadas pela próxima semana que se inicia. 

Eu estou pensando nele, que está há tantos quilômetros de distância, triste porque não consegui me alegrar quando ele me contou que está fazendo progressos com a moça que ele gosta. Eu deveria ficar feliz por ele estar feliz, e isso me faz perceber que meu amor na verdade é uma coisa pervertida, um desejo de posse, uma expectativa  idealizada pela minha carência e meu círculo social reduzido. Se eu o amasse de verdade, no sentido mais profundo do amor eu o cercaria desse amor e ficaria profundamente feliz com a alegria dele, ainda que fosse com ela. 

Além da crescente indiferença eu percebo a cada dia o quanto eu sou uma pessoa maliciosa, confundindo até mesmo o desejo de posse com algo puro e bom como o amor.

X

De novo eu me surpreendo com as minha próprias flutuações de humor, e percebo o quão desequilibrado eu sou. O Transtorno Bipolar me faz ir de um extremo a outro em poucos dias, ainda na semana passada eu me arrastava pra lá e pra cá. Meu corpo estava cansado ao extremo, eu não consegui nem falar direito e muitas vezes me perdia no pensamento, ficava fitando o nada e só desejando voltar pra casa e dormir, sem nem mesmo ter força para assistir como é de costume, e ainda ontem eu me sentia assim, basta ler o que escrevi antes da pausa. E hoje já amanheci com a disposição que não tive nas últimas duas semanas, já escrevi duas resenhas e daqui a pouco vou começar a fazer uma limpeza nas minhas prateleiras de livros, e ainda pretendo fazer a barba, além de assistir mais um pouco na minha folga. É simplesmente inexplicável de onde vem isso e, ao mesmo tempo, para onde vai, senão que a energia aparece e some com a mesma velocidade. Eu quero me esconder e ficar num quarto escuro e fechado e, no dia seguinte, quero fazer tudo o que está ao meu alcance e mudar várias coisas ao meu redor. 

O que aprendo com isso é apenas que devo respeitar os meus diversos tempos e ritmos, aproveitar quando consigo ser produtivo e comunicativo e entender que em outros dias eu vou querer apenas fica deitado ouvindo blues... É o fluxo da minha vida, não há muito que eu possa fazer. 

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