domingo, 21 de maio de 2023

Pés no chão

Não bastasse eu estar com a cara bem cansada, coisa que até minhas colegas de trabalho fazem questão de dizer quando eu chego logo cedo, eu ainda fui tomado de uma crise moral que só não foi mais grave porque o cansaço me fez apagar de sono antes de chegar a qualquer conclusão. 

Depois de meses morando aqui eu resolvi que sairia com um cara que eu conheci na internet. Converso com ele há um tempo e decidi que seria bom tentar algo assim. 

É claro que acabei passando boa parte do dia pensando se era a coisa certa a se fazer e, à noite, quando chegou a hora que a gente tinha marcado, mesmo que eu estivesse decidido a ir, ainda pensava, mas já  me perguntava não se era a coisa certa a se fazer mas que, na verdade, eu só queria que você me pedisse pra não ir, que me pedisse para esperar por você. 

Mas eu sei que você não pediria isso e acabei não indo também, adormecendo cansado e ainda tendo que trabalhar no outro dia. Pelo menos se tivesse ido talvez eu não teria acordado me sentindo tão só. Acordei cansado e sozinho, abrindo os olhos contra minha vontade, a cabeça pesada como se tivesse enchido a cara. Olhei com raiva para o despertador com uma mensagem de motivação irritante e levantei, sem ânimo mesmo, apenas levantando e esperando pelo momento que vou poder dormir de novo, e me deitar sozinho. 

Antes de dormir e sonhar, no entanto, preciso te perguntar: eu deveria procurar alguém? 

Essa pergunta, na realidade, uma forma de confirmar o que eu já sei com profunda convicção: eu preciso seguir em frente porque o nosso relacionamento não vai mudar. Somos amigos, nos amamos, mas é isso e apenas isso. Além de que estamos separados por quilômetros de distância. Então sim, eu devo seguir em frente e essa pergunta é a minha última tentativa de saber se você tem alguma intenção, por menor que seja, de ficar comigo. E como sei que não tem, eu vou seguir. 

Como a resposta não me satisfez (ou fosse exatamente a que eu esperava, ainda que não quisesse ouvir) eu decidi que preciso mudar meu agir, preciso mesmo seguir em frente e reorganizar as coisas dentro mim. Ou vou acabar sofrendo de novo, e eu não desejo passar por nada disso novamente. 

Você não vai me amar, não da mesma maneira. E eu vou continuar sozinho, cada vez mais triste e sozinho. Isso tudo porque eu fui um tolo, criei toda essa imagem na minha cabeça e esperava que você a realizasse, um completo alucinado, e é correto que eu sofra para voltar a olhar a realidade agora, e que siga em frente com pés no chão, pés no chão quente, é verdade, mas ainda assim no chão. 

Não posso deixar de me odiar, principalmente quando percebo o quão longe eu levei tudo isso. Como quando, por reflexo, pego um porta-retratos numa loja e penso que seria legal mais uma foto sua na minha mesa, e então coloco de volta pensando que essa seria uma péssima ideia e que, com isso só alimentaria ainda mais algo que eu deveria manter sob controle, jogar um balde de água fria e lançar para longe todos esses sentimentos confusos. A sua resposta confusa confirma que eu estou certo.

Eu já sabia, sabia e fingia não saber ou, melhor, não queria saber. 

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