sexta-feira, 19 de maio de 2023

Um ombro para chorar

Geralmente quando um aspecto específico de uma obra me chama atenção eu escrevo algo além da resenha habitual, e não raramente a análise fica ainda melhor, mas nela eu foco em algo mais particular que muitas vezes dialoga comigo por conta de alguma vivência minha. 

Em A Shoulder to Cry On eu fiquei bem impressionado com a forma como apresentaram os traumas de Jo Tae Hyun (Shin Ye Chan). O jovem, adotado, viu a mãe entrar em depressão profunda após perder o bebê, indo em busca dele que tinha fugido de casa por causa de um desentendimento com a tia. Ele assistiu sozinho ao declínio da mãe até seu suicídio e, não bastasse isso, foi afastado pelo próprio pai e culpado pela tia em estado de choque. 

Ele aprendeu a lidar com isso criando uma imagem. Seu sorriso e suas brincadeiras davam a ideia de que ele não levava nada muito a sério. A verdade que ninguém enxergava é que ele apenas fingia ser assim para esconder a depressão que ele mesmo vivia, a solidão de ter sido abandonado também pela família adotiva e a culpa pela morte da mãe. 

Anos mais tarde, quando ele conhece o jovem Lee Da Yeol (Kim Jae Han), que parece não se interessar por nada, ele resolve se aproximar do rapaz como que por magnetismo, mesmo sem perceber ele insistiu até conseguir superar as barreiras do jovem arqueiro e os dois se tornaram grandes amigos. 

Nesse ínterim ele percebe mais uma vez o medo que tem de desapontar os outros e de ser desprezado de modo tão brutal. A forma como ele se machucou, como que para impedir de se apegar a alguém e assim não causar dor a si e aos outros de novo, isso foi mostrado de maneira brutal. A melancolia em que ele mergulhou depois desse episódio e o fato de que nenhum de seus amigos entendeu o que estava acontecendo e não foi atrás dele, exceto Da Yeol... Aqui ele, mais uma vez sem perceber, se sentiu ligado ao outro. 

Quando Da Yeol começa a demonstrar seus sentimentos de forma mais intensa, no entanto, ele recorre a um artifício de frieza extrema e afasta o outro com violência. E então, ao perceber os seus sentimentos e decidir lutar por eles acaba descobrindo que é tarde, e então dá início a um período de dois anos em que ele precisa amadurecer e se permitir gostar de alguém, sem medo de ser odiado, desprezado e amado e, por isso mesmo, sem esconder suas lágrimas numa carapaça despretensiosa. 

O reencontro deles é marcado pela tônica de conseguir falar abertamente dos seus sentimentos e de entender a sutileza dessa aceitação que, por ser um trauma tão profundo, precisa de tempo e paciência para ser vencida. O Tae Hyun mais velho consegue fazer coisas pelo Da Yeol que ele ama, consegue falar sobre o que sente, consegue se permitir dormir ao seu lado e mostrar suas lágrimas. Essa superação começou na aceitação de que ele não tem culpa do que aconteceu com sua mãe e, ao confrontar a tia e o pai, ele se permite chorar pela primeira vez e reconhece que não consegue se deixar amar a ninguém por medo de sentir tudo de novo. Ao se reconciliar com a família ele se permite reconciliar consigo mesmo e então dar início a esse período de amadurecimento. 

Os dois juntos estão numa nova fase, eles agora precisam enfrentar o desafio do futuro mas já conseguem entender que precisam também do apoio um do outro. Ao fim da jornada que nos é mostrada Tae Hyun consegue pedir ao outro que seja para ele um ombro onde ele possa chorar.

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