quarta-feira, 24 de maio de 2023

Por aí

Deitei durante uma pausa no trabalho e, brevemente fechei os olhos, longe do celular. Tentei não pensar em nada, limpei a mente, apenas algumas imagens sem sentido passavam sem que me fixasse em nenhuma delas. Foi maravilhoso. Deitado naquela almofada enorme eu me senti livre, sem pesos ou amarras, e a imagem dele não apareceu nenhuma vez, e eu não me senti o pior homem do mundo por amá-lo sem ser correspondido. Foi breve mas foi um dos melhores momentos dos últimos tempos. Acho que agora eu deveria descer e pegar um café. Bem forte. 

Foi bom ficar longe do celular, outra sensação de liberdade. Parece que o mesmo aparelhinho que me liga aos outros que estão distantes também me mantém preso. Foi bom ficar longe de todos por um tempo e, com isso, esquecer a confusão dos meus sentimentos. Confusão que já foi esclarecida, é verdade, mas que nem por isso diminuiu a tempestade no meu peito. Confusão. Tormenta. Por trás do meu sorriso constante, do meu olhar cansado e dos meus gestos de carinho, há um mar em profunda revolta onde monstros gigantescos devoram-se uns aos outros e impiedosamente ameaçam avançar por sobre as pobres pessoas. 

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Consegui um assento no ônibus. Me lembrei de um professor que tive no começo do Fundamental. Edmilson, dava aulas de matemática e geometria. Gostava de passar sempre a mesma técnica para resolução de problemas, desde então eu tomei verdadeiro nojo dessa palavra e dos cálculos, e sempre usava nomes idiotas como He-Man e She-Ra como personagens dos malditos problemas, e eu tenho certeza que ele achava isso o máximo como forma de deixar a matemática mais divertida. Ele me expulsou da classe uma vez porque eu supostamente estava atrapalhando a aula ao entregar um trabalho pra menina que sentava atrás de mim e, ao contestar, ele ficou irritado. Reprovei em geometria naquele ano mas felizmente nunca mais vi aquele grande imbecil. No ano seguinte reprovei em matemática, com uma professora ruiva exageradamente simpática, que também implicava comigo, e que eu achava idiota por usar as pernas de uma atriz como exemplo ao explicar um cálculo cruzado de frações. Nunca aprendi aquela porcaria e, muitos anos depois, descobri que tenho discalculia, além de implicância com qualquer pessoa que tente fazer da matemática algo mais interessante do que o pé no saco que ela realmente é. 

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Nas celebrações da Semana Santa eu estou lutando para me concentrar nos ritos e não tanto nos meninos bonitos que têm na paróquia, o que é quase impossível porque a cada passo tem um mais bonito do que o outro, e tudo fica ainda pior quando eles estão discretamente de túnica no altar. Droga. Eu nunca vou deixar de ser um tarado por novinhos que nunca vão me dar a mínima? Como o velho Buck conseguia todas aquelas mulheres? A única coisa que os caras bonitos sentem ao me ver é nojo. 

Apareceu uma foto minha de três anos atrás, ainda magro no meio de umas plantas no quintal. Que saudades daquele corpo! Muito embora eu já estivesse sozinho naquela época pelo menos era uma coisa a menos para eu odiar ao me olhar no espelho. Droga, como eu daria qualquer coisa pra ficar abraçado com um daqueles caras agora...

Em alguns momentos eu flerto com certos delírios de onipotência onde poderia fazê-lo me amar com um olhar ou toque, ou fazendo chover fogo durante uma manifestação comunista, mas logo me retraio. Não consigo parar de pensar que meu amor não é real e por isso eu não o alcanço. Mas se meu amor não é real o que é isso que eu sinto por ele? E qual a diferença disso que sinto pelo rapaz da igreja? 

Eu acho que isso não é amor, mas uma doença que me consome, um sentimento que cresceu sem controle e que deixei me consumir, enquanto ele seguia em frente, conhecia outras pessoas e eu continuava pensando só nele. Eu demorei a chegar nessa conclusão, muito embora ela seja óbvia: eu preciso continuar conhecendo novas pessoas, amigos, conhecidos, colegas... Eu preciso expandir esse meu círculo e começar a ter contato com novas perspectivas, seguindo aquele conselho de que "o talento se aprimora na solidão mas o caráter se aprimora na confusão do mundo" e eu preciso disso, não posso ficar parado e sozinho esperando que ele faça o mesmo. Eventualmente ele conhecerá alguém, e talvez eu também conheça. 

Não posso forçá-lo a me amar, mas posso ser livre para amar ou para viver a solitude. Outra conclusão óbvia que eu demorei a entender. 

Tudo o que eu queria era ser capaz de viver sem nunca mais amar.

2 comentários:

  1. Sobre como Bukowski conseguia tantas mulheres: Ter um ar retraído (de poeta) é o principal; mulheres adoram todo homem que consegue ser melancólico ( significa que têm sentimentos), e todo homem que se destoa dos demais, enfim. E para amenizar seu sentimento de ''sou tarado por encarar homens'', todo mundo faz isso, e provavelmente algum velho ''tarado'' da sua época juvenil já te olhou com outros olhos, a vida é um ciclo repetitivo. E como prova de que todo mundo faz isso: eu mesma tenho um ''ursinho de estimação'' (pois ele realmente parece um urso), o atendente querido mas possivelmente arrogante na intimidade, do café livraria mais pseudo intelectual de Joinville; é bom cultivar amores de longe! Obs: Humanas come exatas na porrada.

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    1. KKKKKK EU AMEI ESSE COMENTÁRIO MEU PAI

      Será que meu ar poético também é assim ou sou apenas estranho mesmo?

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