segunda-feira, 8 de maio de 2023

Meu Amor

O meu tempo parou quando você me chamou de "amor". Eu não sabia o que pensar, não sabia o que dizer e nem como agir. Assim como você não conteve suas lágrimas no dia em que nos despedimos, e eu pude senti-las quentes em minhas costas, também não consegui conter as minhas enquanto lia suas palavras. Tudo o que eu tinha naquele momento era então o desejo de ter você novamente com os braços ao meu redor num amplexo amado. Eu só queria poder sentir você de novo e, quem sabe, te abraçar com tanta força que jamais nos separaríamos novamente. 

Mas, o que será de nós? E eu que farei, que patrono invocarei em meu auxílio? Poderei sobreviver caminhando ao seu lado mas sem nunca segurar a sua mão ou tocar os seus lábios com os meus? Essa relação que eu disse termos, em que não me importo como a chamem, é real ou eu só estou dizendo isso de modo a disfarçar o fato de que eu só não quero me afastar de você mas ainda vou me machucar quando chegar o dia em que precisarei vê-lo com outra pessoa? 

E ainda assim você disse que me ama, que sou seu amor.

Amor!

Amor?

Amor. 

O que significa isso para você? Porque para mim significa que, em alguns momentos, eu sou pego desprevenido e então meu coração se inflama de intenso amor, e eu custo até mesmo a respirar, pois é como se você estivesse deitado sob meu peito, mas não é só o peso do seu corpo, mas o peso de todo sentimento que nunca poderá sair de mim, que nunca poderá fluir com energia pelas linhas de lei percorrendo toda a terra e explodindo nos grandes montes, passando pelos campos e outeiros, e gritando ao mundo o quanto te amo e como poderia me perder, me deixar absorver por você entre seus abraços. 

Por um lado eu não queria sentir nada disso, queria apenas equilibrar meus sentidos, vontades e paixões e então viver regradamente. Quem sabe encontrar a amizade desinteressada que me orienta a Mater et Magistra. Mas parece que isso não é possível, e talvez eu tenha que me contentar com aquela posição inferior, onde meu amor é colocado em segundo plano e uma jovem moça lhe conquistará o coração, mesmo que ambos saibamos que o que eu sinto poderia fazer a você feliz também. Se eu não te amasse tanto assim já teria fugido, mergulhando na Baía da Babitonga e desaparecendo nos abismos dos oceanos, oceanos semelhantes a grandeza do que eu sinto por você. 

"Você disse que se pudesse voar, jamais desceria..." É o que diz uma música que eu gosto muito, e você diz algo assim quando me conta sobre seus sonhos de ser pai, de ver as crianças correndo ao redor da mesa enquanto você conversa com sua esposa sobre a semana e os planos para o feriado. Uma tarde no parque? Talvez ir até a praia... Vai ser um bom tempo juntos. E essa é uma bela imagem.

Eu só lamento que nunca poderei te ajudar com isso. Nunca poderei ser sua esposa, nunca lhe darei filhos, eu simplesmente não posso ser para você o que precisa, só posso ser aquilo que já sou e que, embora seja bom o bastante para você, não o é para mim. 

O seu silêncio, no entanto, acaba piorando tudo porque muito embora eu já saiba qual a nossa situação, saiba qual o meu lugar no seu coração, eu ainda fico nutrindo, à contragosto e sem nenhum controle, uma centelha de esperança. E na palha do meu coração isso é o suficiente para que comece um incêndio. Fico na dicotomia entre esperar as suas palavras colocarem um fim a toda e qualquer esperança sem fundamento e me devolver ao estado inicial de ceticismo e solidão, e o de desejar que, em algum lugar no fundo do seu coração, você me aceite. 

E então, antes de adormecer a última coisa que penso e digo "Eu te amo", e sinto em meu peito que poderia dizer isso anda mil vezes antes de fechar os olhos. 

~

Imagem: Obra de Anne Magill

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