sábado, 18 de março de 2017

Bruma

Acordei nessa manhã nublada de sábado. Ainda não saí da cama, mesmo já sendo quase meio dia. Já choveu, parou, os vizinhos ficaram inquietos, se aquietaram de novo, minha mãe e irmã saíram e voltaram algumas horas depois... E eu continuo aqui, deitado no escuro, sem pensar em nada em particular, deixando a mente vagar livremente por aí...

E já passei por tantos lugares que nem consigo me lembrar de todos. Lembrei do dia de ontem, que passei ao lado de amigos da comunidade preparando doces pra um festival da igreja que vai acontecer hoje a noite. Sonhei que viajava para Chiang Mai, na Tailândia, visitando aqueles templos que guardam em si histórias de amor de séculos atrás. Pensei em levantar, inventar alguma receita, ou ver algum filme, mas não consegui sair daqui. Pensei em trocar a terapeuta que me acompanha. Fiquei então sem rumo, me recordando de amores passados, de amizades que se foram, de paixões que querem nascer, mas nada me deixou pesado.

Estou cansado, fisicamente, graças a maratona culinária de ontem, e isso é algo bom, pois estou exausto demais para gastar ainda mais energia com pensamentos desnecessários. Logo tudo veio e se foi com a leveza de uma pluma. E como a bruma da manhã essa camada me impede de ver essas coisas com clareza. Gosto disso. Há tempos não me sentia tranquilo assim. Gosto disso.

Penso agora nas pessoas ao meu redor. Pessoas normais, pessoas com problemas, pessoas felizes, pessoas malucas... Engraçado notar como todas são tão diferentes, tendo apenas em comum o fato de que todas são universos únicos, repletos de belezas e mistérios incontáveis. Desejo agora poder conhecer e me aproximar de pessoas novas, de mundos novos, para então desvendar esses mistérios tão fascinantes.

Mas talvez esses mistérios não devam ser desvendados, pois isso poderia lhes tirar o encanto. Ora, a beleza do rapaz de semblante misterioso é justamente o fato de não saber nada sobre ele, me aproximar seria me privar de seu mistério, seria desanuviar o que foi encoberto pelo véu que garante a exclusividade existencial de cada um de nós. Mesmo que as vezes a profundidade num olhar ou a beleza singular de um sorriso seja um convite difícil de recusar.

Continuarei aqui deitado, sem pensar em nada, e pensando em tudo ao mesmo tempo. Descansarei meu corpo, enquanto minha mente aproveita em si mesma esse breve momento de tranquilidade, essa leve bruma que lhe trouxe paz. Talvez eu prepare um chocolate quente, para me acompanhar nessa jornada, ou pegue um cobertor, para aquecer meu corpo, enquanto a imagem do amor me aquece o coração... Quem sabe não acabo deixando nascer em mim uma nova paixão?

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