sábado, 11 de março de 2017

Egoísmo e desapego

Aos poucos, vou tentando reorganizar as minhas prioridades, aprendendo a desconstruir o meu egoísmo e trabalhando cada vez mais o meu desapego, pois ao meu ver, esses são os pontos que mais contribuem para a infelicidade do outro em nossos dias. Observei com cuidado e acredito que esses três pontos sejam os que mais necessitem de atenção nesse meu momento de delicadeza emocional.

Primeiramente em se tratando do egoísmo, ele é sufocante, pois imprime em nossa carne um desejo que nunca poderá ser abatido. Quando somos egoístas, tentamos subjugar as pessoas às nossas vontades e nos frustramos e sofremos quando não conseguimos. Pois se as pessoas são livres, não optariam por viver encarceradas em meus braços. Logo o egoísmo é nada mais que um desejo inútil e animalesco do meu âmago. 

Como princípio pessoal, sempre quis conquistar pelo acréscimo, não pela dominação. Mas isso é um lado nobre que apresento ao mundo. Na verdade esse princípio é o sepulcro caiado que mascara o meu desejo de dominação sobre o outro.

Me pergunto então se isso trata-se de amor verdadeiro, já que uma das premissas do amor é justamente a liberdade. 

Na maioria das vezes, queremos também receber em troca aquilo que doamos. Amar e ser amado, compreender e ser compreendido. Não acho que isso seja errado, mas que é uma receita certa pra infelicidade, disso eu tenho certeza. Por isso São Francisco foi feliz em desejar mais amar do que ser amado. 

No entanto, o outro não tem nenhuma obrigação de suprir a minha necessidade de carinho a atenção. Talvez nem sequer seja capaz de me oferecer algo em troca. Em meu caso mesmo, penso ser quase impossível que alguém em algum lugar ame com a intensidade que eu amo, com tanta intensidade.

De qualquer forma, isso não deveria em momento algum me impedir de amar, afinal outra premissa do amor é que ele não exige nada em troca, é gratuito. Há em mim outra dicotomia muito forte nesse ponto. Por mais que eu lute pra acreditar nesse ideal de amor desinteressado, dentro de mim ainda bate forte um desejo de ser amado, com a mesma intensidade com que amo. Daí tanto sofrimento e tanta incompreensão, pois tendo uma forma única de amar e ver o mundo, não posso exigir do outro os mesmos valores que nem mesmo eu consigo ter em plenitude. 

Para conseguir então amar sem interesse no que o outro tenha para me oferecer, ainda que seja apenas sua presença, eu preciso trabalhar dentro de mim o desapego. Desapego do amor do outro, de sua presença, e desapego dessa minha necessidade do externo. Por isso como o símbolo que com fogo eu gravei no meu peito, eu devo buscar em mim mesmo as forças para subir aos céus, ou seja, para adquirir a sabedoria da vida. 

É um trabalho constante, e muito provavelmente ainda estou distante de conseguir esse ideal. Me vejo muito preso ao amor e aprovação do outro. Preciso mudar, e imprimir em mim que não preciso do amor do outro para amar o outro, Claro que não vou conseguir isso sem muito sacrifício, pois as únicas pessoas que conseguem amar de tal forma são as mães, que tendo um amor incondicional pelos filhos, conseguem amá-los independente de como eles as amam.

Será que eu conseguirei amar de tal forma um dia? Desapegado do amor do outro, sem exigir nada em troca, e sem querer dominar, apenas amando por amar, com todas a minha força? Ou morrerei tentando, sendo esmagado pelo peso do meu próprio amor, enforcado pela necessidade do outro que criei dentro de mim?

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