segunda-feira, 20 de março de 2017

Monstro interior

Eu não deveria estar pensando nessas coisas, não devia estar me deixando abalar por alguém que vi pouquíssimas vezes e que já demonstrou ter quase que horror a mim. Mas eu não controlei a besta, a fera que habita dentro de mim escapou uma vez mais, espalhando terror por toda a minha cidadela interior.

Sem que eu percebesse aquele príncipe de armadura dourada entrou nos meus domínios, e não precisou de nada além de sua tímida presença para me chamar a atenção. Tentei fugir, tentei correr e me esconder, mas o brilho que ele emitia o fazia refulgir até no interior da caverna onde me enfiei. E aquele brilho foi para os meus olhos como a luz da lua, fazendo libertar o monstro que há muito dormia dentro de mim. E ele me destruiu, eu que era sua última prisão, e agora ele corre solto, em busca de sua próxima vitima. Seu alvo? O pequeno de armadura dourada que ousou pisar em meus domínios. 

Não há como ele se proteger, e eu temo que a fera o encurrale uma vez mais, causando-lhe pânico e asco de minha forma pavorosa e abominável. Quando eu retornar a razão, verei aquele homem com o pavor estampado em sua face, e com uma espada apontada para o meu coração, e uma vez mais sofrerei por ter deixado tal demônio a solta. 

Sairei então numa caçada, onde o alvo é aquele que nunca deveria ter saído de dentro de mim, uma vez mais lutarei contra meus próprios instintos, contra quem eu sou de verdade, para proteger a inocência daquela que fez a fera acordar. Eu não fui feito para machucar ninguém, e eu não quero machucar ninguém. Eu também não quero mais me esconder, e nem posso me machucar, eu não posso perder, o meu destino é lutar, lutar até que a fera esteja novamente sob controle, novamente sem me dominar, novamente sem matar, sem espalhar o caos e a destruição. 

Eu não quero que ele tenha medo de mim, nem que me despreze, muito menos que tenha nojo do que sou e de como sou. Não me importo se nunca nos tornamos amigos, mas não quero ser causa de raiva e rancor para ninguém, afinal, eu não sou sempre um monstro, muito embora tenha um vivendo dentro de mim.

Se não conseguir lutar, terei de fugir, fugir e me esconder uma vez mais, para não machucar ninguém. Será esse o meu destino? Correr e me esconder, sem nunca poder viver tudo o que dentro de mim pulsa tão fortemente?

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