Eu não sei quem está lendo essa carta. Será que nos conhecemos, talvez da igreja, da faculdade, ou somos quase estranhos que cruzaram uma ou duas vezes pelas ruas e por coincidência acabamos nos encontrando nas redes sociais... Será que você apenas entrou aqui pela busca do Google e acabou se declarando com um blog cheio de aleatoriedades não aleatórias?
Acontece que eu não sei o que se passa na vida de quem está lendo isso, nem sequer consigo explicar direito o que está acontecendo na minha própria vida. O que está acontecendo com nossas vidas?
Só eu tenho a impressão de que nada faz sentido? E quando eu digo nada, é nada mesmo!
As convenções sociais não fazem sentido, todas se resumem num gigantesco amontoado de regras e preceitos que no fundo não servem para absolutamente nada além de impor sobre cada um de nós uma mão pesada a controlar nossos ímpetos animalescos. As nossas amizades não servem para nada, pois a maioria se resume em relações de interesse mútuo em que é apenas conveniente manter contato para eventuais necessidades.
E o mesmo se pode dizer de nossos relacionamentos. Olhe ao seu redor: fracasso após fracasso, até mesmo aqueles que pareciam se dar super bem e que "tinham tudo pra dar certo" acabam terminando um dia. Quanto aos outros, todos parecem ser realmente joias preciosas, mas que ninguém é capaz de enxergar o verdadeiro valor.
Não conseguimos demonstrar o nosso amor, e quando o fazemos, ele não é capaz de tocar o coração de quem amamos, logo o esforço é inútil. Bem como todo e qualquer esforço empreendido em qualquer área de nossa vida.
Somos obrigados a estudar anos e anos de nossas vidas para nada. Alguns podem até nos questionar que ninguém nos obriga a estudar ou trabalhar, mas quando a única opção além dessa é a de passar fome na rua, somos sim, obrigados a estudar a trabalhar incansavelmente para enriquecer ainda mais pessoas que já são ricas. Enquanto extirpamos nossa mente nos debruçando sobre livros e artigos. De que adianta títulos e mais títulos acadêmicos, se nenhum deles garante uma vida feliz e tranquila?
Sei bem que algumas pessoas só conseguiram melhorar sua condição de vida por meio de estudo e esforço, mas isso não é verdade, prova disso são os quatro anos em que cansei minha cabeça na faculdade e que até agora não me rendeu nada mais além de uma grandiosa dor de cabeça e uma necessidade constante de terapia.
Mas e ai, afinal, qual é o sentido dessa nossa vida confusa? De fato todos fomos criados para estudar, trabalhar, estudar para conseguir trabalhos melhores e trabalhar para conseguir pagar estudos melhores? Ou será que já nascemos em grupos pré-definidos daqueles que se tornarão ricos por meio de esforço (ou não) e aqueles que para todo o sempre oferecerão suporte para os ricos?
Por favor, não entenda esse desabafo como uma crítica ao capitalismo nem nada do tipo. Não questiono o sistema econômico, questiono as imposições da sociedade. Questiono tanta cobrança em conseguir um emprego, um mestrado e um doutorado e ao mesmo tempo, tanta dificuldade para se comunicar com o outro, para entender o outro e se fazer entender pelo outro.
Nos primórdios da humanidade as pessoas começaram a se organizar em sociedades para proverem, uns aos outros, calor, alimento e proteção, e por meio dessas coisas, se reproduziam, para que a prole desse continuidade a essa cadeia de proteção do grupo. Mas hoje em dia as coisas mudaram, e mudaram mais do que seria correto ter mudado. Na verdade hoje vivemos apenas para matar o outro, seja com um tiro, uma faca ou uma palavra de ódio. O sistema está corrompido. Mas que sistema? O sistema do homem. Não se trata da economia, da política ou da educação. O homem corrompeu-se de tal modo que apenas uma intervenção superior por dar a ele o recomeço de que necessita.
Esse recomeço é justo e necessário, do contrário o homem encontrará em si o seu próprio fim.
E quem pensa demais nessas questões? É taxado como louco, preguiçoso, como eu mesmo sou frenquentemente chamado.
O que as pessoas não conseguem entender, ou talvez não queiram, ou talvez não tenham capacidade para entender, é que tudo isso nos impede de viver.
Eu olho ao meu redor e vejo meus amigos,a grande maioria mais nova do que eu, e todos já estão trabalhando, ou se preparando para tal. Eu mesmo depois da graduação e da pós ainda me sinto completamente incapaz de enfrentar esse mundo da forma como querem. E essa sensação de incapacidade é sufocante, desesperadora.
As vezes eu sinto demais, pensando demais, tentando a qualquer custo encontrar soluções pra uma série de questões que eu não faço ideia de como resolver. Isso é a ansiedade que me paralisa. São tantos pensamentos, tantas perguntas que fico paralisado frente o mundo que me cerca.
Por outro lado as vezes não consigo sentir nada. Quero apenas sumir, desaparecer, de alguma forma estancar a dor que nunca para de arder no meu peito. Daí o desejo de retornar ao nada, de voltar a inexistência, de mergulhar o mundo todo na desesperança que me aflige diariamente desde o primeiro pensamento do dia.
Mas até mesmo nesse sofrimento eu me sinto perdido. Afinal, qual o sentido de tantas dúvidas, de tantos anseios, de tantos amores mal resolvidos? Será que há realmente um sentido pra tudo isso? Ou talvez tudo não passe de um tudo que é assim simplesmente porque é assim, e não há nada que possa ou precise de explicação...
Será que no fim de tudo fomos criados apenas para nos questionar constantemente sobre o sentido de nossa existência? Existimos para questionar o sentido da existência? Pois é o que me parece, é o que eu faço, e provavelmente é o que morrerei fazendo.
Acho que talvez tenha deixado você apenas mais confuso. Me desculpe por isso, não foi minha intenção. Mas eu precisava compartilhar isso com alguém, e foi bom ter dito isso para você. Será que passa pelo mesmo que eu? Será que tem as respostas que procuro? Ou será que vamos juntos tentar descobri-las?
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