quinta-feira, 9 de março de 2017

Carta para um desconhecido

Eu não sei quem está lendo essa carta. Será que nos conhecemos, talvez da igreja, da faculdade, ou somos quase estranhos que cruzaram uma ou duas vezes pelas ruas e por coincidência acabamos nos encontrando nas redes sociais... Será que você apenas entrou aqui pela busca do Google e acabou se declarando com um blog cheio de aleatoriedades não aleatórias? 

Acontece que eu não sei o que se passa na vida de quem está lendo isso, nem sequer consigo explicar direito o que está acontecendo na minha própria vida. O que está acontecendo com nossas vidas?

Só eu tenho a impressão de que nada faz sentido? E quando eu digo nada, é nada mesmo! 

As convenções sociais não fazem sentido, todas se resumem num gigantesco amontoado de regras e preceitos que no fundo não servem para absolutamente nada além de impor sobre cada um de nós uma mão pesada a controlar nossos ímpetos animalescos. As nossas amizades não servem para nada, pois a maioria se resume em relações de interesse mútuo em que é apenas conveniente manter contato para eventuais necessidades. 

E o mesmo se pode dizer de nossos relacionamentos. Olhe ao seu redor: fracasso após fracasso, até mesmo aqueles que pareciam se dar super bem e que "tinham tudo pra dar certo" acabam terminando um dia. Quanto aos outros, todos parecem ser realmente joias preciosas, mas que ninguém é capaz de enxergar o verdadeiro valor. 

Não conseguimos demonstrar o nosso amor, e quando o fazemos, ele não é capaz de tocar o coração de quem amamos, logo o esforço é inútil. Bem como todo e qualquer esforço empreendido em qualquer área de nossa vida.

Somos obrigados a estudar anos e anos de nossas vidas para nada. Alguns podem até nos questionar que ninguém nos obriga a estudar ou trabalhar, mas quando a única opção além dessa é a de passar fome na rua, somos sim, obrigados a estudar a trabalhar incansavelmente para enriquecer ainda mais pessoas que já são ricas. Enquanto extirpamos nossa mente nos debruçando sobre livros e artigos. De que adianta títulos e mais títulos acadêmicos, se nenhum deles garante uma vida feliz e tranquila? 

Sei bem que algumas pessoas só conseguiram melhorar sua condição de vida por meio de estudo e esforço, mas isso não é verdade, prova disso são os quatro anos em que cansei minha cabeça na faculdade e que até agora não me rendeu nada mais além de uma grandiosa dor de cabeça e uma necessidade constante de terapia. 

Mas e ai, afinal, qual é o sentido dessa nossa vida confusa? De fato todos fomos criados para estudar, trabalhar, estudar para conseguir trabalhos melhores e trabalhar para conseguir pagar estudos melhores? Ou será que já nascemos em grupos pré-definidos daqueles que se tornarão ricos por meio de esforço (ou não) e aqueles que para todo o sempre oferecerão suporte para os ricos? 

Por favor, não entenda esse desabafo como uma crítica ao capitalismo nem nada do tipo. Não questiono o sistema econômico, questiono as imposições da sociedade. Questiono tanta cobrança em conseguir um emprego, um mestrado e um doutorado e ao mesmo tempo, tanta dificuldade para se comunicar com o outro, para entender o outro e se fazer entender pelo outro.

Nos primórdios da humanidade as pessoas começaram a se organizar em sociedades para proverem, uns aos outros, calor, alimento e proteção, e por meio dessas coisas, se reproduziam, para que a prole desse continuidade a essa cadeia de proteção do grupo. Mas hoje em dia as coisas mudaram, e mudaram mais do que seria correto ter mudado. Na verdade hoje vivemos apenas para matar o outro, seja com um tiro, uma faca ou uma palavra de ódio. O sistema está corrompido. Mas que sistema? O sistema do homem. Não se trata da economia, da política ou da educação. O homem corrompeu-se de tal modo que apenas uma intervenção superior por dar a ele o recomeço de que necessita.

Esse recomeço é justo e necessário, do contrário o homem encontrará em si o seu próprio fim. 

E quem pensa demais nessas questões? É taxado como louco, preguiçoso, como eu mesmo sou frenquentemente chamado. 

O que as pessoas não conseguem entender, ou talvez não queiram, ou talvez não tenham capacidade para entender, é que tudo isso nos impede de viver. 

Eu olho ao meu redor e vejo meus amigos,a  grande maioria mais nova do que eu, e todos já estão trabalhando, ou se preparando para tal. Eu mesmo depois da graduação e da pós ainda me sinto completamente incapaz de enfrentar esse mundo da forma como querem. E essa sensação de incapacidade é sufocante, desesperadora.

As vezes eu sinto demais, pensando demais, tentando a qualquer custo encontrar soluções pra uma série de questões que eu não faço ideia de como resolver. Isso é a ansiedade que me paralisa. São tantos pensamentos, tantas perguntas que fico paralisado frente o mundo que me cerca. 

Por outro lado as vezes não consigo sentir nada. Quero apenas sumir, desaparecer, de alguma forma estancar a dor que nunca para de arder no meu peito. Daí o desejo de retornar ao nada, de voltar a inexistência, de mergulhar o mundo todo na desesperança que me aflige diariamente desde o primeiro pensamento do dia. 

Mas até mesmo nesse sofrimento eu me sinto perdido. Afinal, qual o sentido de tantas dúvidas, de tantos anseios, de tantos amores mal resolvidos? Será que há realmente um sentido pra tudo isso? Ou talvez tudo não passe de um tudo que é assim simplesmente porque é assim, e não há nada que possa ou precise de explicação...

Será que no fim de tudo fomos criados apenas para nos questionar constantemente sobre o sentido de nossa existência? Existimos para questionar o sentido da existência? Pois é o que me parece, é o que eu faço, e provavelmente é o que morrerei fazendo. 

Acho que talvez tenha deixado você apenas mais confuso. Me desculpe por isso, não foi minha intenção. Mas eu precisava compartilhar isso com alguém, e foi bom ter dito isso para você. Será que passa pelo mesmo que eu? Será que tem as respostas que procuro? Ou será que vamos juntos tentar descobri-las? 

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