quinta-feira, 13 de julho de 2017

Indecisão

Quando pequeno eu queria ser professor... adorava brincar de entrar em sala com pastas no braço e fingir escrever no quadro enquanto uma turma de alunos me fitava com os olhos fixos e atentos. Era uma brincadeira interessante, e quem diria que anos depois eu me formaria professor.

Nunca tive um período de indecisão, ao menos não no passado, com relação ao que eu gostaria de ser no futuro. No breve momento do Ensino Médio em que busquei refletir no que faria para o resto de minha vida eu logo cheguei a conclusão que gostaria de ser professor. Entre as áreas do conhecimento a escolha foi ainda mais fácil, escolhi aquela que me permitiria um aprendizado amplo sobre a maioria das coisas, História, e dentro dela poderia me aprofundar em outras áreas, afinal tudo tem sua história, e foi o que eu fiz: Me especializei em História da Arte para então continuar meus estudos na História da Música. Agora estudo filosofia pois pretendo usar também dessa área do conhecimento para confrontar o pensamento que a Música nos traz e sua relação e impacto na História da Arte.

Embora não tenha passado por um período de indecisão, onde a maioria experimenta uma espécie de deserto intelectual onde nenhuma área corresponde realmente aos interesses do sujeito pois o mesmo não sabe quais são esses interesses, tive um momento de desvio desse caminho. Usarei aqui a expressão desvio na falta de uma melhor que não me ocorre nesse momento.

Por alguns anos eu decidi que queria me tornar sacerdote, e até cheguei a passar alguns meses num Instituto de vida consagrada em Brasília, onde os membros são encaminhados para o sacerdócio. Estudei nesse tempo, enquanto terminava minha primeira graduação, um pouco de exegese bíblica, hebraico e latim, além de claro, ter contato com diversas expressões de fé. Foi uma boa experiência, que hoje admito ter abandonado sem pensar, num momento de desvario sexual que não convém dizer nesse momento. O fato é que, não considero o tempo que passei nesse instituto como uma perda de tempo, e inclusive sinto falta, e não vejo-o também como um desvio do meu caminho de professor pois o padre é também um mestre, mas da vida espiritual.

Vejo então hoje alguns de meus amigos que terminaram ou irão terminar num futuro próximo o ensino médio e que não fazem a mínima ideia do que fazer com suas vidas, e percebo que eu, já formado e pós-graduado, agora tenho dúvidas também no que quero fazer com meu futuro, que diga-se de passagem, está rugindo em meu ouvido já a algum tempo.

Me pergunto se não segui o caminho errado, e se não deveria ter tentado algo mais prático, ou que desse mais dinheiro, me fazendo assim mais realizado, dado o fato de que sempre fui muito apegado a gastos supérfluos, luxo que poucos professores têm. Por outro lado, ainda vejo hoje a dificuldade que tenho em me relacionar com o outro, e não me refiro ao falar em público, coisa que me é extremamente fácil, e que gosto de fazer, mas em fazer entrevistas, pedir empregos, ter aqueles primeiros contatos que exigem dos candidatos uma postura séria e interessada. Admito ser difícil estar interessado hoje, numa profissão que provavelmente me levará ao limite da loucura em poucos meses.

Talvez devesse ter pensado na música, estudado mais o violino, ter entrado no curso de regência e quem sabe arriscar nessa área. Poderia ter tentado Direito também, que muito embora me irrite profundamente por sua exagerada polidez e cordialidade é de fato uma área que desperta interesse e que traz bons resultados no que se refere ao custo aplicado e ao benefício recebido.

O que estou tentando dizer é que não estou mais seguro do caminho que trilhei. Acho ainda que posso me sair bem no meio acadêmico, mas não creio que consiga ser um bom professor.

Não tive um período de dúvidas no passado, mas o tenho agora, e as possibilidades que se abrem a minha frente não me satisfazem, pelo contrário, em sua maioria despertam em mim a ojeriza, mas ao mesmo tempo trazem um enorme ponto de interrogação que aos poucos vem me apertando o estômago e o coração...

O que será de mim? O que devo fazer daqui para frente? Devo abandonar o caminho acadêmico que trilhei até aqui e tentar algo do zero? Devo retornar ao seminário e tentar mais uma vez seguir o caminho vocacional? Ou meu futuro está num possibilidade escondida que ainda não considerei?

Essas são algumas das perguntas que vem me tirado boa parte de meu precioso sossego, mas não acredito que esteja próximo de encontrar uma resposta. Muito pelo contrário, quanto mais penso no assunto, menos consigo chegar a uma conclusão...

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