Quando pequeno eu queria ser
professor... adorava brincar de entrar em sala com pastas no braço e fingir
escrever no quadro enquanto uma turma de alunos me fitava com os olhos fixos e
atentos. Era uma brincadeira interessante, e quem diria que anos depois eu me
formaria professor.
Nunca tive um período de
indecisão, ao menos não no passado, com relação ao que eu gostaria de ser no
futuro. No breve momento do Ensino Médio em que busquei refletir no que faria
para o resto de minha vida eu logo cheguei a conclusão que gostaria de ser
professor. Entre as áreas do conhecimento a escolha foi ainda mais fácil,
escolhi aquela que me permitiria um aprendizado amplo sobre a maioria das
coisas, História, e dentro dela poderia me aprofundar em outras áreas, afinal
tudo tem sua história, e foi o que eu fiz: Me especializei em História da Arte
para então continuar meus estudos na História da Música. Agora estudo filosofia
pois pretendo usar também dessa área do conhecimento para confrontar o
pensamento que a Música nos traz e sua relação e impacto na História da Arte.
Embora não tenha passado por um
período de indecisão, onde a maioria experimenta uma espécie de deserto
intelectual onde nenhuma área corresponde realmente aos interesses do sujeito
pois o mesmo não sabe quais são esses interesses, tive um momento de desvio
desse caminho. Usarei aqui a expressão desvio na falta de uma melhor que não me
ocorre nesse momento.
Por alguns anos eu decidi que
queria me tornar sacerdote, e até cheguei a passar alguns meses num Instituto
de vida consagrada em Brasília, onde os membros são encaminhados para o
sacerdócio. Estudei nesse tempo, enquanto terminava minha primeira graduação,
um pouco de exegese bíblica, hebraico e latim, além de claro, ter contato com
diversas expressões de fé. Foi uma boa experiência, que hoje admito ter
abandonado sem pensar, num momento de desvario sexual que não convém dizer
nesse momento. O fato é que, não considero o tempo que passei nesse instituto
como uma perda de tempo, e inclusive sinto falta, e não vejo-o também como um
desvio do meu caminho de professor pois o padre é também um mestre, mas da vida
espiritual.
Vejo então hoje alguns de meus
amigos que terminaram ou irão terminar num futuro próximo o ensino médio e que
não fazem a mínima ideia do que fazer com suas vidas, e percebo que eu, já formado
e pós-graduado, agora tenho dúvidas também no que quero fazer com meu futuro,
que diga-se de passagem, está rugindo em meu ouvido já a algum tempo.
Me pergunto se não segui o
caminho errado, e se não deveria ter tentado algo mais prático, ou que desse
mais dinheiro, me fazendo assim mais realizado, dado o fato de que sempre fui
muito apegado a gastos supérfluos, luxo que poucos professores têm. Por outro
lado, ainda vejo hoje a dificuldade que tenho em me relacionar com o outro, e
não me refiro ao falar em público, coisa que me é extremamente fácil, e que
gosto de fazer, mas em fazer entrevistas, pedir empregos, ter aqueles primeiros
contatos que exigem dos candidatos uma postura séria e interessada. Admito ser
difícil estar interessado hoje, numa profissão que provavelmente me levará ao
limite da loucura em poucos meses.
Talvez devesse ter pensado na
música, estudado mais o violino, ter entrado no curso de regência e quem sabe
arriscar nessa área. Poderia ter tentado Direito também, que muito embora me
irrite profundamente por sua exagerada polidez e cordialidade é de fato uma
área que desperta interesse e que traz bons resultados no que se refere ao
custo aplicado e ao benefício recebido.
O que estou tentando dizer é que
não estou mais seguro do caminho que trilhei. Acho ainda que posso me sair bem
no meio acadêmico, mas não creio que consiga ser um bom professor.
Não tive um período de dúvidas no
passado, mas o tenho agora, e as possibilidades que se abrem a minha frente não
me satisfazem, pelo contrário, em sua maioria despertam em mim a ojeriza, mas
ao mesmo tempo trazem um enorme ponto de interrogação que aos poucos vem me
apertando o estômago e o coração...
O que será de mim? O que devo
fazer daqui para frente? Devo abandonar o caminho acadêmico que trilhei até
aqui e tentar algo do zero? Devo retornar ao seminário e tentar mais uma vez
seguir o caminho vocacional? Ou meu futuro está num possibilidade escondida que
ainda não considerei?
Essas são algumas das perguntas
que vem me tirado boa parte de meu precioso sossego, mas não acredito que
esteja próximo de encontrar uma resposta. Muito pelo contrário, quanto mais
penso no assunto, menos consigo chegar a uma conclusão...
Nenhum comentário:
Postar um comentário