sábado, 27 de outubro de 2018

Amor e veneno

Eu estou doente. Meu corpo dói como se tivesse feito um esforço hercúleo por um longo período de tempo. Minha mente se desfaz como se meu ser não fosse mais do que um pedaço de gelatina. Meu coração, em pedaços, tenta sobreviver em meio a uma tempestade com uma pequena centelha de vida que lhe restou. 

A sua figura apareceu, me enchendo de luz e calor, e logo se foi, me abandonando na frialdade obscura da terra. O seu silêncio, a sua distância, me matam, me ferem pouco a pouco, me reduzem a um emaranhado de machucados sem sentido. 

A sua figura apareceu, me abraçando carinhosamente, e o mundo se resumiu no pequeno espaço em que estávamos. Seus braços ao redor do meu corpo, minha cabeça em seu peito, seus lábios em meu cabelo. E logo você se foi, me deixando sozinho e desamparado numa imensidão de vazios. Apenas eu e minha sombra, e ela a rir-se de mim.

Eu olho as cicatrizes no meu braço, linhas finas e claras, que mostram que há poucos dias ali havia sangue e que o sangue que delas escorreu fez sair de mim um pouco da dor que sentia. Mas não saiu tudo, e sinto como se me afogasse agora no meu sangue, contaminado de amor por você. 

Isso porque não há mais como mentir e dizer que meu amor é algo bom, puro. Não. Meu amor é veneno, meu amor é um incêndio que destrói, é tsunami que arrebenta e mata por onde quer que passe. E tal é a gravidade de minha doença que a cada imagem sua, a cada palavra sua, um pouco de mim morre aqui dentro. E já não sei quanto mais de mim ainda resta, para morrer um pouco a cada dia... 

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