quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Solidões

Eu já escrevi tantas e tantas vezes sobre a solidão, sobre o estar sozinho, sobre o vazio que nos assusta e que existe no âmago do homem desde o primeiro pensamento. Mas quanto mais cavo, mais palavras me surgem, mais experiências se gravam no meu coração, e mais coisas parecem fluir de dentro de mim, às vezes como lágrimas, às vezes como palavras, às vezes como o sangue que escorre...

E olho como as pessoas tentam suprir esse vazio, cada um a sua maneira. Parece que falta um pedaço de todo mundo, parece que todos somos defeituosos e estamos constantemente em busca de algo que nem sabemos o que é. 

Eu não sei o que busco. Eu não sei o que pode me completar, eu não sei o que falta em mim. Mas falta algo, falta em todo mundo, e todos tateiam as cegas buscando, sem saber o que achar nem onde procurar. 

No entanto, por mais que todos estejam nessa mesma situação, parece que somos incapazes de compreender a solidão do outro. Não é como se todos estivéssemos no mesmo barco, não estamos, mas estamos cada um no seu próprio barco, navegando em águas turvas e muito, muito turbulentas. As vezes o vento impetuoso nos joga uns contra os outros, os cascos se chocam, dói, nos machucamos, mas ainda assim não conseguimos passar para outro barco. E parece que as águas nos levam cada vez mais o abismo na beirada do mundo. 

Estou convencido de que as pessoas estão sozinhas no mundo, e condenados a viver num rebanho solitários, com muitas pessoas ao nosso redor, mas ninguém ao nosso lado. Claro, não significa que vivamos no maus absoluto isolamento, aliás eu mesmo estou sempre rodeado de pessoas que me fazem bem, e me sinto bem com elas, mesmo, mas é como se não vivêssemos na mesma página. Ficamos juntos, comemos e sorrimos juntos, mas eles não fazem ideia do que se passa na minha cabeça, não sabem o que eu amo, não me conhecem realmente e eu também admito que não os conheço. Somos completos estranhos aos olhos uns dos outros. 

Por exemplo, no momento estou ouvindo  os primeiros compassos da Sinfonia N° 1 do Brahms, e acabo de ouvir o seu Concerto pra Violino Op. 77. Eles sabem que eu gosto de música clássica, inclusive alguns como meu ex já foram comigo assistir a orquestra, mas mesmo sabendo disso, não sabem o que a música significa pra mim, não sabem o que é sentar e sentir dezenas de milhares de sensações ao ouvir uma música com a complexidade de Brahms ou Bach. E isso é importante? 

Bom, isso pra mim é a vida. Música pra mim é vida. E se algo que pra mim tem a maior importância, para os outros não passa de um algo a mais, uma diversão momentânea, algo pra preencher o silêncio e nada mais. 

Como posso então confrontar essa minha realidade com aquela que diz que amigos são aqueles que querem as mesmas coisas e rejeitam as mesmas coisas, como dizia S. Tomás de Aquino? 

Marchamos pra lá e pra cá o dia inteiro. Entramos em organizações, igrejas, pastorais, empregos. Fazemos amigos, inimigos, colegas. Encontramos pessoas que nos fazem bem, pessoas que nos irritam que queremos bem longe, pessoas que queremos ao nosso lado mas não que não querem ficar, ou que querem mas não podem... Temos uma ilusão de preenchimento, com nossos livros, nossas tarefas e obrigações, nossos compromissos. Rimos das aves que parecem voar sem direção, sem destino, mas esquecemos que também não temos destino, não sabemos pra onde vamos, nem o que queremos...

Ou só eu estou perdido assim? Só eu ando vagando sem direção, fazendo o que faço por inércia, por não ter nada melhor para fazer, enquanto todos os outros tem plena consciência de seu lugar no mundo, de seus sonhos e interesses? Será que apenas eu não sei quem sou e nem o que quero? Será que sou o único a flutuar daqui pra ali sem rumo, sem destino, sem orientação. Desnorteado. 

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