terça-feira, 2 de outubro de 2018

Em Paz

Há pouco saí de uma sala de concerto, onde pela primeira vez assisti ao vivo a execução de minha peça favorita de um dos meus compositores favoritos. A Sinfonia N° 6 "Patética" de Tchaikovsky que, como não podia deixar de ser, deixou em mim profundas impressões. No entanto, como já escrevi várias e várias vezes sobre ela aqui, decidi falar de um aspecto mais particular do dia de hoje.

A última vez que eu fui ouvir Tchaikovsky, foi sem dúvida uma das piores experiências da minha vida. Não pela apresentação que foi simplesmente magnífica, mas pelas companhias.

Eu sempre tive dificuldade de fazer as coisas sozinho, e principalmente quando se tratava de algo que eu queria muito fazer. Sempre foi difícil encontrar companhia pra ir comigo a esses lugares, e eu sempre fiquei muito triste por muitas vezes deixar de ir por não ter quem ir comigo. Teve um tempo, em que as vezes faltava a aula pra ir, mas foi quando morava perto do teatro, então não era difícil já que a distância da faculdade pro teatro era de alguns quarteirões apenas. 

E muitas vezes isso me entristeceu. Mas como disse, na última vez que fui assistir Tchaikosvky, a coisa atingiu outro patamar. Foi o dia que percebi o quanto sou dispensável na vida de quem amo, pois vi que, mesmo sendo meu aniversário, eu era a pessoa menos importante ali, e foi quando o desprezo por aquela que o roubou de mim chegou a um nível sobrehumano. Resultado: chorei horrores e padeci de dores tenebrosas, dada a raiva e a tristeza que se acumularam em mim e transbordaram. 

De certa forma naquele dia eu comecei a entender que não deveria depender dos outros para ser feliz nesses momentos. Aquela era uma música especial para mim, era um momento que queria compartilhar ao lado de quem amo, mas que foi transformado num pesadelo. O culpado? Eu mesmo, pois se tivesse ido sozinho, teria conseguido aproveitar a apresentação sozinho. Aliás, todas as coisas que aprendi a amar, as amei sozinho, não foi? E quanto ao desejo de compartilhar isso com quem amo? Paciência, não dá pra ganhar todas. 

Hoje eu sinto que consegui dar mais um passo. A música, em especial a Patética de Tchaikovsky, é como uma autobiografia para mim, e me identifico com cada nota dela. Cada acorde é necessário e faz sentido para mim. E eu pude sentir isso com a força que só uma orquestra romântica pode ter! 

Claro que nenhuma das pessoas que amo estava lá, e é estranho ouvir a valsa do 2° movimento sozinho, me imaginando ao lado de alguém mas ora, todas as vezes que a ouvi não foi assim? Nada mudou então!

Cheguei em casa e agora escuto música baixinho no player, para manter a atmosfera de profunda compreensão que tive lá na orquestra, e meu coração está em paz. Está em paz porque ouvi uma música que amo do fundo do meu coração, e com a qual me identifico até com a derradeira nota. Está em paz porque consegui fazer sozinho o que não me imaginava fazendo, e não precisei me humilhar para que ninguém fosse comigo. Fiz por mim, por amor a mim, coisa que ninguém mais tem ou pode fazer. 

Estou em paz, morrendo na solidão, como o movimento final da sinfonia e como os últimos momentos do seu compositor. Creio que um dia ouvirei a essa peça sendo regida pelo próprio Tchaikovsky, que dedicará a mim uma apresentação da música que conta a história de nossas vidas. 

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