terça-feira, 23 de outubro de 2018

Outro torpor

Sinto como se a risada do demônio ecoasse em meus ouvidos. Sinto como se um exército marchasse em minha direção. Sinto como se meu coração batesse mais rápido do que deveria. Sinto que minha hora se aproxima cada vez mais...

Passei o dia inteiro deitado, sem forças para me levantar, sem vontade de me levantar. Meu corpo entrou novamente num estado de letargia, como se aos poucos ele refletisse o meu desinteresse em viver, como se aos poucos a desesperança fosse se marcando na minha carne.

E por falar em carne, ela agora arde, como meu peito, em desejo. E o calor que há em mim a consome em cinzas, desgrudando-a de meus ossos. Meu corpo aos poucos deixa de ser corpo, passará a ser apenas a velha cinza, misturada a terra e aos vermes que nela habitam. 

Acho que ele se foi de vez, pois a cada dia sinto a distância entre nós aumentar e aumentar, e com sua ausência aumenta em mim o vazio de sua presença. Talvez as chamas tenham queimado também os laços que nos uniam, e me levado com elas para o limbo de torpor. 

Assim como em mim não encontro a continuidade de uma vida, não há como terminar devidamente estas linhas. Recorro ao baixo recurso da liberdade artística que a tudo releva na tentativa de me eximir a dar a estas palavras uma forma mais bem definida e um final arrematado, mas quando não consigo delimitar nem mesmo a minha forma, como vou fazer isso com o emaranhado de palavras confusas que brotam do meu coração? 

Ah, o coração... 

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