quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Do meu lugar

Eu não sou nada, e bem sei disso. Estou dolorosamente ciente de minha modesta posição frente ao mundo. Nada parece dar certo, mas isso não é verdade, algumas coisas mais significativas do que outras parecem não dar certo, e por elas terem mais peso em meu coração, sinto como se nada desse certo. 

Às vezes sinto como se o universo conspirasse contra mim, numa espécie de assembléia cósmica onde sábios discutissem sobre a melhor forma de me fazer sofrer. Obviamente isso é resultado de uma visão megalomaníaca de minha própria existência, colocando-me no alto de um pedestal que não ocupo. Quem sou eu para o universo conspirar contra mim? O universo verdadeiramente não está nem aí para mim!

Assim como ele também não está, e dessa posição eu não preciso recordar, em nenhum momento cheguei a crer que ocupava em seu coração um lugar de destaque, senão que sempre ocupei a margem, se é que se pode afirmar que ocupei algum lugar.

A verdade é que enquanto eu me isolo e sofro, chorando ao ser influenciado pelas letras tristes das músicas e pelo som alto da chuva que parece esmagar o meu ser, ele sequer considera o sofrimento que causa em mim. Alguns dias atrás, quando tolamente jurava declarar ao mundo minha existência ao traçar com um canivete as linhas frias de sangue que funcionariam como meu testamento, ele não sentiu minha dor. 

Eu me feri, levado de certa forma pelo desespero que era saber de minha posição em relação a ele. Eu me feri e derramei meu sangue, e algumas cicatrizes claras em minha pele me recordam disso. Mas apenas eu me feri, apenas eu chorei, apenas eu sofri, enquanto ele dormia confortavelmente, enquanto outra pessoa ocupava seu pensamento e principalmente seu coração. 

Não sou importante o suficiente para ser objeto de discussão daqueles que decidem as grandes questões do universo. Não sou tampouco importante para ocupar a mente de um jovem de uma terra esquecida no meio de uma nação de bacharéis imbecis. Meu lugar é tão modesto assim, que sequer mereço ocupar a mente de uma única pessoa num mundo tão repleto de idiotas que ocupam a mente de tantos? 

Daqui do meu lugar, que não é de cima do pedestal que me julgava digno, eu vejo a grandiosidade da estupidez daqueles que me cercam, e me pergunto em meu íntimo: qual a razão de querer eu ocupar o coração de quem sequer consegue compreender meu amor? 

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