quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Wilderness


Reflexão livremente inspirada na audição de:

Álbum: Have You In My Wilderness
Artista: Julia Holter
Gênero: Alternative, Indie
Gravadora: Domino Records, 2015.

Imagens etéreas surgem em minha mente. Inconscientemente levando a mão para tocá-las, e elas se dissolvem por entre meus dedos como se fossem fumaça. 

A firmeza do chão frio e molhado embaixo de mim enrijece meus pés e me faz estremecer, mas caminho sem destino, vendo não mais do que borrões disformes ante meus olhos. Esparsas figuras aqui e ali me dão a impressão de que não estou sozinho, e eu as chamo, eu as clamo, mas elas são tão impassíveis a minha voz como foram ao meu toque. 

Por vezes eu comecei a correr, na busca de uma parede, ou uma pedra que fosse. Meu coração quase vacilou duas ou três vezes, e eu caí, rolando na lama, manchando minha camisa branca e ralando os meus joelhos. Levantei cambaleante, e voltei a rodar ao redor de mim mesmo, em busca de algo além da pedra e mais firme do que as imagens de fumaça que me assombravam com suas cores. 

Um mundo amarelo, salpicado de azul e vermelho no horizonte. Um pôr do sol que deu errado? O que é esse sangue que se vê no céu? O suor escorre pelas linhas do corpo, a respiração pesada, o sal das lágrimas que se mistura com o sal da pele, derretendo em dezenas de tons pastéis diferentes. Um cenário surreal. 

Um mundo preto, com fumaça branca. Vazio.

Um mundo cinza, com bolinhas rosas e verdes que piscavam como no natal. Um mundo de sonhos, com penas coloridas sem pássaros flutuando por ali. Um longo piano de cauda, branco e límpido, seu som doce não encontra barreiras, não encontra limites, e toca os corações mais distantes, até os que foram despedaçados pelo abandono.

Um mundo branco, com fumaça cinza. Vazio.

Andei lenta e sem direção. Tentei me concentrar nos sons que as vezes ouvia. Um ritmo acelerado, uma festa de criança, um parque com suas luzes acesas e casais no carrocel sorrindo com um algodão doce nas mãos. Um ritmo lento, uma brisa fria, um piano triste. Primeiro um, depois o outro. Depois o outro, e em seguida o um. 

Meu coração se acelerava, e eu corria. Meu coração diminuía, e eu andava em círculos. Um sentimento esquizofrênico tomou conta de mim quando percebi que já não mais entendia o que sentia, nem o que me acontecia. 

Fechei os olhos, e apertei com força, toda a força que tinha. Cerrei as mãos e as unhas cravaram fundo na carne. Apenas os abri quando senti que algo ao meu redor mudara...

Ao abrir os olhos uma escada surgiu a minha frente. Bem como toda a paisagem ao meu redor que se mesclara, em tantas combinações diferentes que eu sabia não estar em nenhum mundo daqueles, mas em algo que era tudo aquilo junto e misturado. O todo era maior que a soma das partes, e a combinação de tantas realidades distintas formava um mundo de verdade. Mas a escada, mesmo a minha frente, estava tão longe que não podia alcançá-la sem antes atravessar toda aquela selvageria.

Ali havia dor, mas também havia alegria. Havia vazio, mas também havia som. Havia uma realidade palpável, e um sinal que apontava para a transcendência pela qual passei. O som do coro dos anjos me disse para não desistir e continuar lutando, enfrentando as feras, caminhando, em direção a vida perene que em breve alcançaria. 

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