segunda-feira, 20 de julho de 2020

Ao redor

Sabe, todo mundo é substituível. Faça o teste, se ausente por tempo suficiente e todos vão aprender a viver sem você. Apresente dois grupos de amigos: logo vão esquecer de você. Sabe porque aquela pessoa que você gosta diz que está solteira por opção? É porque a única opção é você, e ela não o quer, qualquer coisa, até a solidão, é melhor do que você. 

Seu amor, seu carinho, nada disso serve para ninguém, é dispensável e trivial. Você não só causa indiferença nas pessoas, causa repulsa, ojeriza. Ninguém vai olhar pra você! Seu arremedo de ser humano, sua garatuja, aberração!

E é por isso que morrerá sozinho, sem ninguém ao seu lado, lembrando-se dos velhos tempos, como se alguém o amasse, como se alguém o desejasse. Mas os velhos tempos são agora, e ninguém te ama, ninguém te deseja. Morrerá sozinho, sonhando com uma época que nunca existiu, no mais patético dos fins.

Ao seu redor todos vão se apaixonar, encontrar um alguém especial, buscar a felicidade. A você nada disso será permitido. Você é parte das estirpes condenadas a cem anos de solidão que nunca terão uma segunda chance sobre a terra. Seu destino é a latrina fétida, um cadáver podre incomodando os vizinhos, e nada além disso, um incômodo. Enquanto os outros são como flores doces exalando perfume, atraindo todos a si. Você apenas os repele. Você apenas os enoja!

Outros colos são mais agradáveis do que o seu. Outros abraços, outros beijos, outras palavras. Tudo no outro é melhor do que em você. Afinal de contas, por que você existe? Por que está aqui? Ninguém te quer por perto, ninguém nunca vai te amar, ninguém nunca vai te querer. E, no fim, tudo o que vai testar a você é desejar a morte, voltar ao nada, voltar a inexistência.

Mas por que é assim? O que eu tenho de tão inferior aos outros? Por que eu sou tão ruim assim? 

Eu tentei, tentei mesmo. Eu dei o meu melhor, o tempo todo. Dei carinho, atenção, afeto. Ouvi, aconselhei, chorei, emprestei o meu ombro, consolei. E nada disso adiantou. Ainda continuo sendo tratado como um sub-humano, algo muito inferior, um animal que não merece carinho ou afeto. Mesmo sendo o meu melhor, não foi o suficiente. Eu não fui suficiente.

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